segunda-feira, 6 de março de 2017

9 - Prisão e Morte dos Revolucionários de 1817


No acampamento da tropa revolucionária em retirada, próximo à meia-noite, os líderes derrotados se reúnem em conselho buscando uma resolução, que não é alcançada. Após esta reunião, o padre João Ribeiro entra na capela do engenho e enforca-se. Ao longo da noite, na ânsia de salvar a vida, as pessoas aos poucos vão se retirando e na manhã seguinte não restava quase ninguém no engenho Paulista. O equipamento militar e os cofres com o tesouro público permaneceram, intactos, no local.
Domingos Theotônio e padre Miguelinho são presos enquanto tentam fugir. O ouvidor Antônio Carlos apresenta-se voluntariamente na cadeia de Igaraçu. José Luís de Mendonça, que não saiu de Recife, se apresenta ao almirante Rodrigo Lobo. Estes e outros presos envolvidos no movimento são enviados em três navios de guerra para a Bahia para serem julgados.

No Rio Grande do Norte, em 26 de abril de 1817 os legalistas já haviam deposto a junta revolucionária, ocasião em que foi morto por espadas o coronel de milícias André Albuquerque de Maranhão, membro da junta revolucionária. Em junho reassumiu o governo da capitania o capitão-mor José Inácio Borges.

Na Paraíba, percebendo as dificuldades do movimento republicano em Pernambuco, uma junta legalista local conseguiu retomar posse com um governo interino em 07 de maio de 1817, prendendo os principais líderes republicanos locais.

O capitão José de Barros Falcão de Lacerda, retornando da Ilha de Fernando de Noronha, foi detido juntamente com alguns militares e ex-presos que estavam na ilha, ao desembarcarem na Baía da Traição, na Paraíba. Para a ilha foi mandada parte da frota que bloqueava Recife, dominando facilmente os poucos militares que lá se encontravam.

Em 29 de junho de 1817, com a revolução já controlada, chega a Recife o novo governador, capitão-general Luís do Rego Barreto, acompanhado dos 4 mil homens vindos do Rio de Janeiro, que em pouco tempo receberiam o reforço das tropas vindas de Portugal, com experiência em combate contra os franceses na Península Ibérica.

Militar rígido e fiel ao rei, o novo governador de Pernambuco era favorável a uma punição exemplar para os revolucionários. Seguiram-se nove meses de prisões, julgamentos e execuções. O número de executados só não foi maior porque Luís do Rego Barreto se desentendeu com as autoridades judiciárias pernambucanas, o que ocasionou a transferência de muitos prisioneiros para a Bahia.

No dia da partida de Recife para Salvador, os prisioneiros são obrigados a caminhar pelas principais ruas da cidade acorrentados nas mãos e pés. Os navios que irão levá-los estão repletos de portugueses e realistas que os insultam. Os prisioneiros são presos no pescoço com correntes que os obrigam a permanecer deitados durante a viagem, onde recebem comida propositalmente salgada e não recebem água.

Entre os participantes da Revolução de 1817, treze presos foram condenados à morte. Quatro foram fuzilados em Salvador. Em Pernambuco, nove foram enforcados, tendo depois seus corpos esquartejados, com as cabeças e mãos expostas em diferentes locais públicos de Pernambuco e da Paraíba, e os troncos amarrados e arrastados por cavalos até o cemitério.

Fontes sem confirmação estimam aproximadamente 1600 mortos ou feridos nos combates, 800 degredados (números que se pode considerar exagerados) e 117 presos em Salvador por quatro anos, até serem anistiados em 1821.

Morreram ainda como consequência direta no envolvimento da revolução em 1817:
José Inácio Ribeiro de Abreu e Lima (padre Roma): Nascido em Recife, teólogo e bacharel em Direito, deixou a vida sacerdotal para dedicar-se à advocacia e à política. Enviado pelo governo revolucionário à Bahia, foi descoberto, preso, rapidamente julgado, condenado e fuzilado em 29 de março de 1817 no Campo da Pólvora em Salvador, três dias depois de ser preso. A execução foi assistida obrigatoriamente por seu filho, então capitão José Inácio de Abreu e Lima, posteriormente conhecido como general Abreu e Lima.

João Ribeiro de Pessoa de Mello Montenegro (padre): Maçom. Nascido em Tracunhaém, Pernambuco, era professor do Seminário de Olinda e foi eleito presidente da junta governista revolucionária em Pernambuco. Construiu uma biblioteca particular em sua residência, disponibilizando volumes para vários companheiros de ideologia iluminista. Com a derrota da revolução, suicidou-se no interior da capela do engenho Paulista. Três dias depois de seu suicídio, o corpo enterrado ao lado da capela foi exumado e mutilado, suas mãos enviadas para Goiana (PE), e sua cabeça, após ser exibida pelas ruas de Recife ao longo do dia da exumação, por ordem do governador ficou espetada por dois anos no poste do pelourinho em frente à Igreja do Corpo Santo, no Recife.

André de Albuquerque Maranhão (coronel de milícias a cavalo): Nascido em Canguaretama, Rio Grande do Norte, foi um dos líderes do movimento separatista, tornando-se presidente do governo provisório no Rio Grande do Norte diante da pouca ação do padre Dornellas, escolhido para o cargo. Em 26 de abril de 1817, sentado à mesa dos despachos, teve sua sala invadida pelos contra-revolucionários. Negou-se a se entregar e reagiu, sendo ferido por Antônio José Leite Pinho, que o atingiu com a espada. Ferido, foi conduzido para a Fortaleza dos Três Reis Magos e colocado a noite inteira no chão molhado de uma cela escura. Agonizou sem assistência e perto de sua morte, seu amigo – padre Dornellas – prestou-lhe as últimas orações. Morto aos 40 anos, pela manhã, transportaram seu corpo nu e coberto com sangue coagulado para ser sepultado sem caixão na Igreja Matriz. Seu cadáver foi enterrado com grilhões.

Em 06 de fevereiro de 1818, por ocasião da aclamação do rei Dom João VI, foi determinada a suspensão da devassa sobre a revolução e de novas prisões. Os réus sem culpa comprovada foram libertados, continuando presos em Salvador os envolvidos que estavam com processo formado.
Em 10 de fevereiro de 1821 são anistiados e libertados 117 rebeldes presos em Salvador, em um momento que Dom João VI buscava apoio para enfrentar o crescente questionamento de sua autoridade em Portugal. Entre os libertos estava o frei carmelita Joaquim do Amor Divino Rabelo Caneca (Frei Caneca) e outros que participariam da Confederação do Equador(8) em 1824. O padre Francisco Muniz Tavares e o ex-ouvidor de Olinda, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva, recém-saídos da prisão em Salvador, foram eleitos para representar o Brasil em Portugal nas Cortes Constituintes(9) de 1822.

O capitão-general Luís do Rego Barreto recrutou grande número de soldados entre a população pernambucana, formando uma volumosa tropa comandada por oficiais portugueses de sua confiança. Com a tropa mantinha a população sob rigorosa vigilância.

Se era fácil controlar os moradores de Recife e Olinda, o mesmo não ocorria no interior da capitania, dominado pelos grandes proprietários que possuíam muitos escravos e moradores pobres dependentes. Isso permitiu que os senhores de terras se organizassem para resistir às determinações do novo governo, levando a uma nova revolução na região em 1824, a Confederação do Equador.

A tradição republicana de Pernambuco lhe trouxe perdas territoriais. Em 16 de setembro de 1817, como prêmio à colaboração dos alagoanos na revolução, a Comarca das Alagoas foi desmembrada de Pernambuco, tornando-se uma capitania. Nova perda ocorreria em 1824, quando após a Confederação do Equador, a Comarca do São Francisco, que lhe pertencia, seria anexada à Minas Gerais, sendo transferida em 1827 para a Bahia.

FonteSylvio Mário Bazote – Historiador e Psicólogo de Juiz de Fora – Minas Gerais

3 comentários:

  1. O Império não foi duro apenas com nosso conhecido Tiradentes, mas com tantos outros. Essa era a Lei da Coroa.

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  2. A punição contra Pernambuco continua até a presente data. Ad autoridades da Bahia não respeita ad atuais fronteiras de Pernambuco. Recentemente em 2019 o deputado federal José Carlos aleluia mandou arancar uma placa na divisa petrolina com Juazeiro na margem direita. Mesmo estando firmado nos livros de historia da bahia de Luiz Henrique Dias Tavares que diz" O Rio São francisco separa a Bahia de Pernambuco da Cachoeira de Sobradinho até a confluencia do Rio Moxoto" e agora em 4 de Fevereiro de 2019 o Ministério publico de pernambuvo e a FIDEM mandou uma nota s prefeituts de pettolina que as ilhas do Fogo e rodeadouro b vao passarbpata juazeiro da bahia porque o IBGE disse quevelas pertecem a Juazeiro e vai propor .anuncio projeto de lei anunciado pela TV e Radio jornal em Petrolina em 4/2/2020.

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    1. A ilha do Massangano ficou com Petrolina. Isso você não fala.

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