As comemorações do
bicentenário da revolução pernambucana começam hoje. A programação se estende
até 2018. Nesta segunda-feira haverá palestras e debates.
Por: Diário de
Pernambuco – Publicado em: 06/03/2017
Debates, palestras,
exposições e até passeios de bicicleta estão programados para comemorar o
bicentenário da Revolução de 1817. Os 200 anos do movimento que estabeleceu a
primeira república no Brasil são comemorados oficialmente hoje, mas a
programação se estende por todo o ano. A revolução ocorreu em 6 de março de
1817. Até 2018, vários eventos vão lembrar esse capítulo marcante da história
de Pernambuco ainda desconhecido por parte da população. Para hoje, estão
marcadas sessões solenes no Palácio do Campo da Princesa e na Assembleia
Legislativa de Pernambuco. Uma palestra sobre a relação da revolução com a
cultura brasileira vai acontecer às 15h, com entrada gratuita, na sede da
Academia Pernambucana de Letras, no bairro das Graças.
Na quinta-feira, a
revolução será tema de uma mesa-redonda na Fundação Joaquim Nabuco, em Casa
Forte. O evento, que começa às 17h, contará ainda com palestras de Socorro
Ferraz (Os contos e as fantásticas carrancas); Flávio Cabral (A missão Cabugá
nos Estados Unidos: uma página da revolução) e José Luiz da Mota Menezes (Um
campo do Erário Régio, dois pátios e uma revolução republicana). A entrada é
gratuita.
A história da
Revolução de 1817 será contada também em uma exposição no Museu da Cidade do
Recife, no Forte das Cinco Pontas, bairro de São José, área central do Recife.
A mostra será aberta ao público no dia 12 deste mês, na comemoração dos
aniversários do Recife e de Olinda. A exposição 1817 - Revolução Republicana
fica em cartaz até 5 de março de 2018. “Contaremos a história da revolução que
estabeleceu, pela primeira vez, um governo livre da Coroa portuguesa. A
exposição foi dividida em cinco eixos temáticos, e mediadores vão receber
escolas e espectadores em geral”, disse a diretora do museu e curadora da
exposição, Betânia Correa de Araújo.
Ainda sem datas
definidas, outras ações devem acontecer ao longo do ano. Placas de azulejo
serão afixadas em locais de relevância para a Revolução de 1817, como o Forte
do Brum e a Praça da República. Um roteiro educativo e turístico, com visitas
guiadas, será criado para visitar esses pontos da cidade que lembram os atos
heróicos dos revolucionários. Também será organizado um passeio ciclístico com
a temática. “Outras atividades são exposições culturais, valorização da
revolução no conteúdo programático das escolas públicas, construção de um
monumento e publicação de livros com abordagens analíticas do fato histórico”,
pontuou o secretário-executivo de Coordenação da Casa Civil, Marcelo Canuto. De
acordo com o governo do estado, haverá ainda encenação de peça teatral sobre a
revolução e concurso de redação com a temática para estudantes do ensino médio
da rede estadual.
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Revolução
Pernambucana de 1817 inspira artistas a criar obras em homenagem ao movimento
libertário. Data comemorativa vai ter exposições dedicadas a ela; a primeira é
17 por 12, que entra em cartaz na próxima terça, na Arte Plural Galeria.
Por: Isabelle Barros
– Publicado em: 07/01/2017
Há 200 anos,
Pernambuco exercitou ao máximo seu ímpeto histórico para a revolta. A Revolução
de 1817 foi a expressão local das ideias de liberdade, igualdade e fraternidade
espalhadas no mundo pela Revolução Francesa. Integrantes do clero, maçons,
militares e comerciantes brasileiros, descontentes com o domínio político
português, uniram-se para proclamar uma república independente no dia seis de
março e, durante 74 dias, a capitania teve constituição própria, liberdade de
imprensa e até embaixador nos Estados Unidos. Esse tema, que vem povoando a
imaginação de vários artistas, ganha ainda mais relevo neste ano de 2017,
quando se comemora o bicentenário da Revolução.
A primeira ação
artística do ano, nesse sentido, é a mostra 17 por 12, que vai expor na Arte
Plural Galeria, a partir da próxima terça-feira, dia 10, obras inéditas de doze
artistas plásticos de várias gerações, pernambucanos ou radicados no Estado.
Todos foram convidados pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) a criar
telas ou desenhos inspirados em recortes temporais daquele momento histórico.
Entre eles, está a eleição do governo provisório de Pernambuco e o fuzilamento
do Padre Roma, um dos líderes revolucionários, além da bênção da bandeira da Revolução,
já retratada pelo pintor José Cláudio. Os mesmos trabalhos também ilustram o
calendário que será distribuído este ano pela Cepe.
Cada artista ficou
encarregado de trabalhar um tema, selecionado por sorteio. O curador da mostra,
Raul Córdula, afirma que a iniciativa é uma continuação de uma tradição pictórica
local. A pintura histórica é uma tendência da arte do Recife. Vejamos o mural
Batalha dos Guararapes, de Brennand, na Rua das Flores, e o Revoluções
Libertárias, de Corbiniano Lins na Praça Abreu e Lima, entre outros. O que é
interessante nesta exposição é a diferença de tendências artísticas nos 12
pintores. Além do mais, vão constar da exposição reproduções de três obras de
Antonio Parreiras pintadas para o centenário da Revolução Paraibana, em 1917.
Durante o processo
de feitura das obras, os artistas convidados travaram um contato maior com uma
história que a maioria deles mal conhecia, assim como boa parte da população
pernambucana. Jessica Martins ficou com o tema da liberação dos desfiles de
maracatus pelas ruas, antes proibidos pela Coroa Portuguesa. Comecei meu
processo de criação remontando ao visual da época, mas não consegui me
circunscrever a essa realidade. Meu trabalho é muito colorido, é como se a
imagem se dissolvesse. Não quis fazer algo fotográfico, mas mostrar a alegria
de quem acreditava na revolução. Não deu certo, mas ao menos houve a tentativa.
Na época, como hoje, havia uma forte polarização política e econômica. Os
portugueses tinham os privilégios e os brasileiros não tinham valor social,
éramos gente de terceira.
O holandês radicado
em Pernambuco Roberto Ploeg, outro artista convidado pela Cepe, reforça o
paralelo entre o presente e a História. Sua obra, que ilustra o bloqueio do
Porto do Recife pela Marinha Portuguesa, destaca o peso do fator econômico na
derrota da Revolução. O contexto atual faz a gente ver o passado com mais
curiosidade. Não sabia bem como pintar esse tema, mas optei por retratar um
porto com navios quase em branco, sem poder negociar nada, e, em contraste,
mostrar as velas das fragatas e navios portugueses, para simbolizar esse
domínio sobre uma economia pernambucana paralisada. Convivemos com isso hoje,
com o governo golpista entregando o patrimônio nacional e promovendo a
recolonização da América Latina%u201D.
Os desdobramentos
finais da Revolução de 1817, com a morte de seus principais nomes, foi o tema
abordado por Renato Valle, com um desenho sombrio, feito para ilustrar o fracasso
desse projeto de país. Meu tema, a morte do Padre João Ribeiro, um dos líderes,
é muito duro por revelar muito do que nós somos hoje. Pernambuco só mudou em
uma coisa: não somos mais um estado revolucionário. O que me chamou mais a
atenção foi a crueldade da punição a pena de morte. No entanto, o padre cometeu
suicídio antes de ser executado. Sua cabeça foi exposta em um pelourinho onde
hoje é o Marco Zero, na frente da Igreja do Corpo Santo, destruída para dar
lugar às obras de ampliação do Porto do Recife, no início do século 20. As
destruições, seja do corpo de alguém ou de um patrimônio, estão arraigadas nas
nossa sociedade.
Além dessa mostra, o
Museu da Cidade do Recife vai realizar sua própria exposição de longa duração
sobre o tema, que abrirá no dia 5 de março, véspera da data da revolução, em
parceria com o Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano. O
museu está bastante comprometido com a data, por ser um local bastante
simbólico. Já fizemos uma pesquisa grande com o nome dos presos que ficaram aqui
por conta da revolução. Também está prevista a reedição e o lançamento de
várias obras sobre o tema pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe).
Uma revolução
desconhecida pelos pernambucanos
Embora os nomes dos heróis
e mártires de 1817 Cruz Cabugá, Padre Roma, Vigário Tenório, Leão Coroado batizem várias ruas recifenses, o movimento
histórico ainda é muito pouco conhecido. Esta é a opinião de Paulo Santos,
autor do romance A noiva da Revolução, sobre o tema, jornalista e editor
convidado do especial Pernambuco: História e Personagens, publicado
semanalmente no Diario. Foi um dos eventos mais importantes da História do
Brasil, democrático, republicano, independentista e abolicionista. Oliveira
Lima dizia ser esta a única revolução brasileira merecedora deste nome.
O esquecimento
daquele evento histórico, segundo Paulo, se deve à fala de interesse em
reavivar sua memória, uma fonte de inspiração para novas rebeliões democráticas.
Somente na República Velha, porque interessava ao regime então vigente, 1817
foi valorizado. O dia seis de março, no centenário da Revolução, em 1917, foi
até feriado nacional. O Império, o Estado Novo e o regime militar de 64, porém,
empurraram aquele movimento para baixo do tapete.
A psiquiatra,
historiadora, romancista e integrante do Instituto Arqueológico, Histórico e
Geográfico Pernambucano Maria Cristina Cavalcanti de Albuquerque também
ressalta a importância do evento como simbólico para um ideal de justiça social
em Pernambuco. O movimento buscou isso. Ninguém pensava que a Igreja Católica,
com maçons, gestasse um movimento libertário e foi o que aconteceu. Frei
Miguelinho imaginava uma sociedade justa, como a Escandinávia de hoje. O modo
como o Iluminismo nos iluminou foi fantástico. A Revolução de 1817 não foi bem
organizada politicamente nem militarmente, mas, naquele tempo o avanço foi muito
grande - ainda hoje é, afirma.
SAIBA MAIS
No Recife, parte da
história da Revolução pode ser contada por meio de monumentos, obras de arte ou
prédios públicos espalhados pelo centro expandido da capital pernambucana.
Saiba onde encontrar:
PRAÇA DA REPÚBLICA
O escultor Abelardo
da Hora é o autor do Monumento aos Heróis da Revolução Pernambucana de 1817
(foto), feito em concreto e inaugurado em 1994, por encomenda do Governo de
Pernambuco. Foi uma das suas obras públicas destinadas a retratar momentos
decisivos da história e personalidades locais, assim como o Monumento a Zumbi
dos Palmares, localizado na Praça do Carmo. Na Praça da República, conhecida no
passado como Campo da Honra, foram enforcados líderes do movimento como Leão
Coroado, Vigário Tenório e Domingos Teotônio.
INSTITUTO
ARQUEOLÓGICO, HISTÓRICO E GEOGRÁFICO PERNAMBUCANO
A entidade é a
guardiã da espada e dos óculos e lentes de vidro verde que pertenceram a José
de Barros Lima, conhecido como Leão Coroado, além de quadros que retratam os
comerciantes Domingos José Martins (1781-1817) e Gervásio Pires Ferreira
(1765-1838). Outros objetos relacionados à data são o tinteiro e a escrivaninha
de Miguel Joaquim de Almeida Castro, o Frei Miguelinho (1768-1817). O instituto
também preserva o exemplar do Preciso, único documento impresso pelos
revolucionários, documento no qual se detalham as ações a serem realizadas pelo
governo recém-constituído, além da prensa usada para imprimi-lo.
CASA DA CULTURA
O pintor
pernambucano radicado na França Cícero Dias doou, em 1982, dois painéis à Casa
da Cultura, hoje instalados no hall central do equipamento cultural. Eles
representam duas revoluções pernambucanas: a Revolução de 1817 e a Confederação
do Equador, que martirizou Frei Caneca, participante também da insurreição de
sete anos antes.
PALÁCIO DO CAMPO DAS
PRINCESAS
Após a restauração
do Palácio do Campo das Princesas, finalizada em 2014, é possível ver ainda
melhor a beleza dos vitrais da sede do governo, feitos pelo artista Henry
Moser. Um deles se destaca por abordar a Revolução Pernambucana de 1817, que
inclui o simbolismo da bandeira da revolução. Outro vitral que se impõe no
local diz respeito à Proclamação da República.
MUSEU DA CIDADE DO
RECIFE
Construído pelos
holandeses no século 16 e reformado pelos portugueses no século seguinte, o
Forte de Cinco Pontas serviu como prisão para mais de uma centena de revolucionários
pernambucanos derrotados em 1817 e em 1824. Na sua parte externa há um
monumento marcando o local onde Frei Caneca 2013 que participou da Revolução de
1817 e, por isso, passou quatro anos preso na Bahia, além de liderar a
Confederação do Equador, em 1824 foi fuzilado.
LIVROS
A NOIVA DA
REVOLUÇÃO, DE PAULO SANTOS OLIVEIRA
O romance histórico,
lançado em 2007, conta dia a dia de 1817 a partir do caso de amor entre o principal
líder da Revolução, o brasileiro Domingos José Martins, e a filha de
comerciantes portugueses Maria Teodora da Costa. Os dois foram proibidos de
ficar juntos pelo pai da moça, que não queria um genro brasileiro. Mas se
uniram, num casamento muito festejado pelo povo, que talvez tenha o sido o mais
importante, politicamente, já ocorrido no Brasil
HISTÓRIAS QUE NOS
SANGRAM, DE GERALDO DE FRAGA
Livro com sete
contos lançado em 2009 pelo jornalista Geraldo de Fraga ambienta suas tramas de
suspense em Pernambuco, desde 1694 até 1940, usando tanto acontecimentos
históricos quanto lendas espalhadas entre a população. O conto Os dentes dos
mortos aborda a Revolução Pernambucana e suas manobras políticas, como gatilho
para escrever uma história com tintas sobrenaturais.
OLHOS NEGROS, DE
MARIA CRISTINA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE
A autora tem oito
livros publicados e, neste romance histórico, o fio condutor da narrativa é uma
mulher chamada Maricotinha, que vivia em um pouso de tropeiros onde hoje fica o
município de Abreu e Lima e foi testemunha ocular da revolução. Em seus capítulos,
a pesquisa dos fatos mais importantes do levante se mescla a um perfil dos
principais personagens do movimento, entre eles Frei Caneca, Abreu e Lima e
Gervásio Pires. A primeira edição saiu em 2009 e uma terceira edição deve sair
ainda este ano pelas Edições Bagaço.
HISTÓRIA EM
QUADRINHOS
1817, AMOR E
REVOLUÇÃO
Graphic novel com
roteiro de Paulo Santos de Oliveira e desenhos de Pedro Zenival, conta o que
aconteceu em de 1817 de forma romanceada, porém fiel aos fatos históricos. A
Cepe a lançará este ano, dentro de um conjunto de obras publicadas em homenagem
ao bicentenário da Revolução.
A MORTE E A MORTE DE
FREI CANECA – TOMO I: FILHOS DE MARTE
Graphic novel,
roteirizada pelo historiador Rodrigo Acioli Peixoto, ilustrada por nove
desenhistas e publicada em 2013, se concentra na história do famoso frade
pernambucano. A trama mistura realidade e ficção e começa no dia da execução do
religioso. Em seguida, o enredo volta para 1817 e esclarece como Caneca se
tornou a figura histórica que se conhece hoje.
TEATRO
O NASCIMENTO DA
BANDEIRA
O espetáculo,
encenado em 2008, baseou-se no livro A noiva da revolução, de Paulo Santos de
Oliveira. Escrito e dirigido por Ronaldo Correia de Brito (de O baile do Menino
Deus), e classificado por ele como uma ópera popular, conta a história da
criação da bandeira azul e branca de Pernambuco, que foi o símbolo da Revolução
de 1817. A única diferença para a atual está na supressão de duas estrelas, que
simbolizavam a Paraíba e Rio Grande do Norte, então ligadas ao nosso estado.
LANÇAMENTOS
A Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) prevê o
lançamento ou a reedição de livros relacionados à Revolução de 1817. Um deles é
a quinta edição do clássico histórico A revolução de 1817, escrito pelo
Monsenhor Muniz Tavares com notas de Oliveira Lima e lançado pela primeira vez
em 1917, na ocasião do centenário do movimento. Além desta, há outras
publicações no prelo, ainda sem título: uma obra sobre a participação dos
frades no levante e um livro com dez ensaios de historiadores do Brasil
inteiro, com uma revisão crítica sobre o evento histórico. Ainda este ano, o
site da editora vai reunir um arquivo digital com livros sobre o assunto em
arquivos do país e do exterior.
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