
Outro grupo
extremamente descontente com a política de favorecimento de D. João era
composto pelos militares de origem brasileira. Para guarnecer as cidades e
também ajudá-lo em suas ações contra Caiena e a região do Prata, D. João trouxe
tropas de Portugal e, com elas, organizou as forças militares, reservando os
melhores postos para a nobreza portuguesa. Com isso, o peso dos impostos
aumentou ainda mais, pois agora a colônia tinha que manter as despesas da corte
e os gastos das campanhas militares.
Como analisa a
historiadora Maria Odila Silva Dias, "a fim de custear as despesas de
instalação de obras públicas e do funcionalismo, aumentaram os impostos sobre a
exportação do açúcar, tabaco e couros, criando-se ainda uma série de outras
tributações que afetavam diretamente as capitanias do Norte, que a corte não
hesitava em sobrecarregar com a violência dos recrutamentos e com as
contribuições para cobrir as despesas da guerra no Reino, na Guiana e no Prata.
Para governadores e funcionários das várias capitanias, parecia a mesma coisa
dirigirem-se para Lisboa ou para o Rio".
Esse sentimento de
insatisfação era particularmente forte na região nordestina, a mais antiga área
de colonização do Brasil, afetada pela crise da produção açucareira e
algodoeira e pela seca de 1816. Lá, o desejo de independência definitiva de
Portugal era profundo. Em Recife, capital da província de Pernambuco e um dos
principais portos da região, o descontentamento era enorme. O sentimento generalizado
era de que os "portugueses da nova Lisboa" exploravam e oprimiam os
"patriotas pernambucanos". Esses homens, descendentes da
"nobreza da terra" do período colonial, formada pela elite canavieira
de Olinda, que tinha participado da Guerra dos Mascates, consideravam
justificado o crescente antilusitanismo na Província.
Francisco Muniz
Tavares, uma destacada figura da sociedade pernambucana, assim se referia a D.
João: "Porquanto, que culpa tiveram estes (habitantes de Pernambuco) de
que o príncipe de Portugal, sacudido de sua capital pelos ventos impetuosos de
uma invasão inimiga, saindo faminto de entre os seus lusitanos, viesse achar
abrigo no franco e generoso continente do Brasil, e matar a fome e a sede na
altura de Pernambuco?".
Domingos José
Martins, um dos heróis da Revolução de 1817, tinha amigos em Londres e nos
Estados Unidos e foi influenciado pelas ideias liberais desses lugares. Uso
amparado pela Lei 9610
As ideias liberais
que entravam no Brasil junto com os viajantes
estrangeiros e também por meio de livros e de outras publicações que
chegavam incentivavam o sentimento de revolta entre os pernambucanos. Também já
haviam chegado, desde o fim do século XVIII, as sociedades secretas, como as
lojas maçônicas. Em Pernambuco existiam muitas delas, como Patriotismo,
Restauração e Pernambuco do Oriente, que serviam como locais de discussão e
difusão das "infames ideias francesas".
À medida que o calor
das discussões e da revolta contra a opressão portuguesa aumentava, crescia também
o sentimento de patriotismo dos pernambucanos, ao ponto de passarem a usar nas
missas a aguardente no lugar do vinho e a hóstia feita de trigo, como forma de
marcar sua identidade. Pelas ruas de Recife se ouvia, aqui e ali, o seguinte
verso:
"Quando a voz
da pátria chama
tudo deve obedecer;
Por ela a morte é
suave
Por ela cumpre morrer”.
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