A Revolução Pernambucana, também conhecida como Revolução dos Padres, devido a importância que os mesmos tiveram em sua organização e divulgação, foi um movimento separatista contra a Coroa Portuguesa que ocorreu em 1817 na capitania de Pernambuco.
O Iluminismo do
século XVIII inspirou o pensamento liberal que alimentou os processos de
independência nas Américas. No caso do Brasil, aquelas ideias orientaram todas
as conspirações e movimentos voltados para a ruptura do domínio lusitano sobre
a colônia. Assim, a Inconfidência Mineira de 1789, a Conjuração Fluminense de
1794, a Revolta dos Alfaiates de 1798 na Bahia e a Revolução Pernambucana de
1817 se constituíram nos principais movimentos políticos influenciados pelos
ideais iluministas e que culminaram na Independência proclamada em 1822.
Pernambuco possuía
uma longa tradição de buscar a solução de seus problemas com recursos próprios,
desde a expulsão dos holandeses do nordeste brasileiro em 1654, após nove anos
de guerra com pouco apoio dos portugueses. O contato com a administração
holandesa, que permitia certa autonomia comercial e cultural, somada à
vitoriosa luta contra estes, tornou o povo pernambucano particularmente
orgulhoso e receptivo às ideias de liberdade e respeito aos seus méritos,
julgando-se com direito de contestar em diversas ocasiões a autoridade do
governo português, como na Guerra dos Mascates, em 1710.
No início do século
XIX, a cidade Olinda e a vila Recife somavam mais de 40 mil habitantes, um
conjunto urbano grande para a época. Pernambuco possuía um porto muito movimentado
em Recife, alguns povoados e vilas com um comércio ativo, muitas plantações de
cana e algodão, além de centenas de engenhos que fabricavam açúcar.
A exclusividade
comercial com Portugal garantia a arrecadação dos tributos à Coroa e dava aos
comerciantes portugueses o controle sobre os prazos e o preço das mercadorias,
em uma relação desvantajosa que gerava um crescente desagrado para os
brasileiros. Outro motivo de descontentamento da elite pernambucana era
motivado pelo fato dos brasileiros raramente conseguirem ocupar os cargos mais
importantes da administração pública, reservados aos portugueses.
A crescente pressão
dos abolicionistas na Europa criou crescentes restrições ao tráfico de
escravos, o que tornava esta mão-de-obra cada vez mais cara, sendo a escravidão
o motor de toda a economia agrária pernambucana.
Os holandeses
passaram a produzir e comercializar açúcar a partir de suas colônias na América
Central (Antilhas), fazendo o preço do produto cair no mercado e diminuir o
número de compradores, prejudicando os lucros dos senhores de engenho e
comerciantes pernambucanos, tornando mais difícil o pagamento de dívidas, a
importação de mercadorias e dos cada vez mais caros escravos africanos.
Em 1816 uma grande
seca atingiu Pernambuco e região, causando uma queda na produção do açúcar e do
algodão, que sustentavam a economia, o que gerou miséria e fome para parte da
população, com falta de farinha e feijão.
Este conjunto de
dificuldades pelas quais passava a capitania levou os pernambucanos em busca de
saídas para a crise, e eles encontraram novas inspirações nos exemplos dos
Estados Unidos e da França. Além disso, o apoio da Inglaterra e dos Estados
Unidos aos hispano-americanos em conflito contra a metrópole espanhola
alimentava a expectativa de que iniciativas revolucionárias na América
portuguesa pudessem contar com o mesmo tipo de ajuda. O fato de haver uma
considerável quantidade de ingleses estabelecidos nas grandes cidades
brasileiras e movimentarem uma quantia cada vez maior de dinheiro em seus
negócios reforçava essa expectativa, uma vez que os interesses dos britânicos
eram os mesmos que os das elites nordestinas, como o fim do monopólio e
estabelecimento do livre comércio.
Com a vinda da
família real para o Brasil, em 1808, ocorre a abertura dos portos brasileiros
às nações amigas, favorecendo os comerciantes brasileiros, que não precisavam
mais dividir seus lucros com os intermediários portugueses. No entanto, as
iniciais vantagens econômicas e culturais com as visitas de estrangeiros não foram
seguidas por vantagens políticas.
A instalação da sede
da monarquia portuguesa no Rio de Janeiro fez com que todas as capitanias
tivessem que pagar novos impostos sobre a exportação do açúcar, tabaco e
couros, criando-se ainda uma série de outras taxas, afetando diretamente as
capitanias do norte, que a Corte sobrecarregava com recrutamentos e com as
contribuições para cobrir as despesas das guerras na Guiana e no Prata.
As riquezas que
saiam de Pernambuco eram usadas para custear a crescente estrutura burocrática
do reino e financiar obras públicas para a modernização da cidade do Rio de
Janeiro, de modo a aumentar o conforto da corte portuguesa e o prestígio com os
visitantes estrangeiros.
Outro efeito da
vinda da família real portuguesa para o Brasil foi o deslocamento do eixo de
importância política no Brasil do norte para o sul, o que, juntamente com o
sucessivo aumento de impostos, contribuiu para aumentar a instabilidade
política e as tensões sociais.
Na mesma medida em
que diminuíam os lucros e o poder político da elite pernambucana, aumentavam o
descontentamento e desejo de autonomia. As conversas criticando a Coroa
Portuguesa aconteciam abertamente nas ruas, festas e repartições públicas,
tendo como um dos principais alvos o governador da capitania desde 1804,
capitão-general Caetano Pinto de Miranda Montenegro. O experiente ex-governador
do Mato Grosso era considerado tolerante, omisso e pouco voltado para o
trabalho, o que resultou em uma administração ineficiente, com estradas e
edifícios públicos mal conservados e serviços essenciais, como a limpeza nas
ruas, feitos com desleixo. Os militares, recebendo baixos salários com atraso,
pouco cuidavam dos problemas de segurança.
Entre aqueles que
publicamente espalhavam ideias liberais e republicanas destacavam-se os padres
formados no Seminário de Olinda.
Pelo menos 70 padres
participaram do levante, segundo os cálculos feitos [...] sobre os autos da
devassa. Entretanto, como muito dos documentos sobre 1817 foram destruídos
pelos próprios revolucionários no momento em que as forças realistas
encurralavam os levantados, e como a devassa foi encerrada antes de chegar às
suas primeiras conclusões, é presumível que o número de eclesiásticos na
revolução pernambucana seja ainda maior. [...] A documentação é abundante em
demonstrar que o clero se empenhou em persuadir e aliciar a população a favor
da revolução, consolidando conquistas e intimando indecisos e desobedientes.
Próximos aos militares, os padres desempenharam diversos papéis nas tropas
desde capitães de guerrilha até soldados. Há até casos em que alguns conventos
serviram de campo de treinamento militar ou mesmo como local para alojar armas.
A revolução de 1817 só terá sucesso em se difundir por regiões mais amplas
quando fizer uso do aparelho eclesiástico, atingindo até mesmo os sertões por
meio de fios que ligavam os vigários, as igrejas e paróquias às grandes
autoridades do bispado. Os púlpitos, pastorais e até os livros de tombo das
paróquias estarão impregnados pelo ideário revolucionário. O governo provisório
por meio do clero fez circular pastorais instruindo os fiéis a abandonarem as
rivalidades que dividiam o rebanho entre brasileiros e europeus [...]. Dessa
forma, as pastorais, amparadas pelas explanações do clero serviram como um dos
vários instrumentos políticos de doutrinação para legitimar o levante.
(Andrade, 2011:246-247).
Os comerciantes portugueses, ligados à exportação de
açúcar e algodão, estavam cada vez mais amedrontados no ambiente hostil em que
viviam, preocupados por um lado com a violência de uma possível revolta de
negros e mulatos e, por outro lado, com a rivalidade dos grandes proprietários
brasileiros, que se consideravam nobres por possuírem terra e chamavam os
lusitanos pejorativamente de “mascates” ou “marinheiros”, porque estes chegavam
da Europa em navios. Contribuía para aumentar a hostilidade, o fato dos
portugueses emprestarem dinheiro aos brasileiros com juros mais altos do que a
outros portugueses, e cobrarem pesadas multas por atrasos nos pagamentos. Os comerciantes portugueses, ligados à exportação de açúcar e algodão, estavam cada vez mais amedrontados no ambiente hostil em que viviam, preocupados por um alado com a violência de uma possível revolta de negros e mulatos e, por outro lado, com a rivalidade dos grandes proprietários brasileiros, que se consideravam nobres por possuírem terra e, chamavam os lusitanos pejorativamente de "mascates" ou "marinheiros", porque estes chegavam da Europa em navios. Contribuía para aumentar a hostilidade, o fato dos portugueses emprestarem dinheiro aos brasileiros com juros altos mais altos do que a outros portugueses, e cobrarem pesadas multas por atrasos nos pagamentos.
Fonte: Sylvio Mário Bazote – Historiador e Psicólogo de Juiz de Fora – Minas Gerais
Fonte: Sylvio Mário Bazote – Historiador e Psicólogo de Juiz de Fora – Minas Gerais
Nenhum comentário:
Postar um comentário