O dividido governo provisório pernambucano entrou em crise quando Domingos José Martins, que havia formado uma tropa com trezentos escravos negros tirados de seus senhores, prometeu-lhes alforria para incentivá-los à luta. Para piorar a situação, Domingos Theotônio Jorge Martins Pessoa incentiva os negros a uma rebelião pela liberdade, enquanto o governo provisório (do qual os dois eram líderes na Junta Governista) tentava tranquilizar a população, principalmente os ricos senhores de terras, quanto ao direito de propriedade.
O fato é que as
elites agrárias poderiam ser anticolonialistas ou liberais, mas não eram
antiescravistas, uma vez que sua riqueza dependia dessa mão-de-obra. E isso
valia não apenas para os nordestinos, mas para todo o Brasil da época.
Estas contradições
causaram a perda de confiança das classes ricas que participavam da revolução,
levando a maioria dos proprietários de terras e escravos do interior da
capitania a apoiar o exército real e colaborar na reconquista de Recife.
Os senhores de
engenho não apoiaram a revolução e os comerciantes ainda menos. Portugueses em
sua maioria, poucos deles se aliaram aos rebeldes. Apenas alguns, geralmente
brasileiros, ficaram com os revolucionários, como Domingos José Martins e
Gervásio Pires Ferreira.
Após o fim da
revolução, muitos senhores de engenho e comerciantes alegaram que tinham
colaborado com os rebeldes à força ou à espera de uma oportunidade para
enfrentá-los. Um bom exemplo deste oportunismo é o caso e José Carlos Maynrink
da Silva Ferrão, que era secretário do governador deposto pelos
revolucionários, continuou neste cargo durante a breve república pernambucana e
depois que os revolucionários foram derrotados permaneceu ligado ao governo
português.
Em Pernambuco, mesmo
com a posse dos principais centros urbanos (Recife e Olinda), a revolução
republicana não conseguiu impor seu domínio sobre todo o território da capitania.
Apesar das vitórias nas capitais da Paraíba e do Rio Grande do Norte, havia
nestas capitanias focos de resistência no interior e desinteresse ou atitude
duvidosa de parte da população.
A defesa do
território conquistado pelos revolucionários era difícil. O governo
revolucionário contava com aproximadamente 3 mil homens, entre militares do
Exército e civis voluntários, o que era uma tropa pequena em comparação ao
tamanho do território. Os rebeldes tentaram organizar uma cavalaria, oferecendo
o posto de capitão a quem formasse uma companhia de aproximadamente cem homens,
mas não possuíam oficiais competentes para isso. Com uma grande faixa litorânea
para defender e sem uma marinha de guerra, os pernambucanos aparelharam um
brique(7), duas canhoneiras e uma embarcação mercante, colocando-os sob o
comando de Luís Francisco de Paula Cavancanti, proprietário rural sem prática
de navegação.
O governador da
Bahia, capitão-general Marcos de Noronha e Brito, o Conde dos Arcos, após o
fuzilamento do padre Roma, mesmo sem instruções do governo do Rio de Janeiro,
rapidamente mobilizou os recursos militares da capitania, transformando-a na
base das forças portuguesas para conter as forças revolucionárias.
Sem demora, em 28 de
março de 1817, enviou para Alagoas uma força terrestre como vanguarda, sob o
comando do major José Egídio Gordilho Veloso de Barbuda para combater a pequena
tropa de que dispunha Borges da Fonseca. A tropa alagoana dispersou sem
oferecer resistência e seu chefe foi preso. Ao mesmo tempo avançavam rumo a
Recife uma frota, armada às pressas, para realizar o bloqueio de seu porto, e
por terra a maior parte da tropa, com aproximadamente 4 mil homens, sob o
comando do marechal Joaquim de Melo Leite Cogominho de Lacerda. Quando as
tropas atravessaram o Rio São Francisco em 01 de maio, marcharam sem
dificuldades, com o apoio dos proprietários alagoanos, para o norte em direção
a uma Recife já bloqueada pelo mar, pela força naval baiana comandada pelo
capitão Rufino Pires.
Enquanto isso, no
Rio de Janeiro, a notícia da revolução causou grande repercussão na população.
Imediatamente após saber da revolução pernambucana, a Coroa despachou para
Recife uma pequena esquadra composta de uma fragata, duas corvetas e uma
escuna, sob o comando do contra-almirante Rodrigo José Ferreira Lobo e as
nações amigas foram notificadas do bloqueio naval aos rebeldes.
Reuniu-se, sob a
supervisão pessoal de Dom João VI, a maior parte do material e contingentes
militares disponíveis em meio a manifestações de apoio, com particulares
fazendo doações para a compra das armas e munições necessárias, enquanto
voluntários alistavam-se para as tropas de milícias.
Do Rio de Janeiro,
em 02 de abril de 1817, seguiu uma expedição militar, que sob as ordens do
capitão-general Luis do Rego Barreto, reunia duas naus de guerra e de nove a
dez embarcações menores levando quatro batalhões de infantaria, dois esquadrões
de cavalaria e um destacamento de artilharia com oito canhões, num total de 4
mil homens. Foi enviada ao mesmo tempo, para Portugal, ordem de trazer dois
regimentos de infantaria, num total de 2600 homens, parte destinada a reforçar
a expedição incumbida a Luis do Rego Barreto, enquanto outra parte deveria
ficar em Salvador.
A pronta ação do
Conde dos Arcos [...] parece ter inibido qualquer manifestação na Bahia por
parte de simpatizantes do movimento, que, ao que tudo indica, não seriam
poucos. Na própria Corte suspeitou-se da existência daqueles simpatizantes, e,
ao se ter notícia da Revolução, um dos principais atos do Governo foi mandar
proceder a uma devassa sobre os acontecimentos, que a muitos fez colocar na
prisão no Rio de Janeiro. (Mourão, 2009:22).
No dia 20 de abril,
de acordo com o padre pernambucano Dias Martins, “proclama-se a Pátria em perigo”
e lança-se mão da convocação de escravos (pelo que seus senhores seriam
indenizados) para integrarem as forças que, sob as ordens dos principais
líderes militares iriam combater as tropas vindas da Bahia. A maioria dos
senhores de terra não atendeu à convocação, não havendo, portanto,
significativo reforço nas forças revolucionárias.
Em 23 de abril a
esquadra carioca chega a Recife, completando o bloqueio naval da cidade. O
plano da Coroa Portuguesa era atacar por duas frentes: bloquear Recife pelo mar,
aproveitando o ponto fraco da ausência de uma marinha de guerra e impedir a
retirada dos rebeldes por terra.
Francisco de Paula
Cavalcanti de Albuquerque marcha pelo interior da capitania pernambucana
comandando a maior parte das tropas republicanas ao encontro da tropa vinda da
Bahia, encontrando no trajeto forte antipatia dos proprietários de terra e das
autoridades locais. Nessa expedição os revolucionários venceram algumas forças
organizadas às pressas pelos senhores locais, obrigando-as a ir para o sul.
Na medida em que as
tropas vindas da Bahia penetram nos territórios alagoano e pernambucano, vários
povoados os apoiam. Percebendo a fragilidade das forças revolucionárias,
partidários leais à Coroa iniciam ataques nas capitanias da Paraíba e do Rio
Grande do Norte. Ocorrem combates no interior e pequenas localidades. Em
algumas vilas, como na paraibana Mamanguape, os rebeldes resistem casa por
casa, mas são obrigados a recuar para a capital.
A primeira derrota
dos rebeldes pernambucanos ocorreu em 02 de maio na batalha do engenho Utinga,
seguida de outra mais grave, em 13 de maio, no engenho Trapiche, perto de
Serinhaém. Nesta última, em desvantagem numérica, os republicanos abandonam
toda sua artilharia e boa parte de sua munição, além de ter aproximadamente 300
homens feitos prisioneiros. Diante da impossibilidade de sustentar o ataque, as
forças rebeldes retiram-se durante a noite para Recife.
Outra expedição
republicana que seguia pelo litoral, liderada por Domingos José Martins, membro
da Junta Governista, foi surpreendida em 16 de maio pelo capitão José dos
Santos, das milícias de Penedo, quando este atravessa o Rio Merepe comandando
quase 300 homens em duas companhias de infantaria, duas de pardos de Penedo e
uma de caboclos do Atalaia. O destacamento republicano foi dizimado próximo ao
engenho Pindoba e Domingos José Martins foi ferido e preso.
Fonte: Sylvio Mário Bazote – Historiador e Psicólogo de Juiz de Fora – Minas Gerais
Fonte: Sylvio Mário Bazote – Historiador e Psicólogo de Juiz de Fora – Minas Gerais
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