As ideias liberais
propagadas no final do século XVIII e início do XIX ganharam adesão de vários
grupos políticos no cenário mundial. Em Pernambuco, intelectuais civis,
militares e da Igreja compartilharam de visões concernentes a modelos
republicanos, já descontentes com o regime monárquico absolutista vigente no
Brasil. Governantes a serviço de D. João VI, executavam posturas favoráveis à
nobreza, preterindo alguns membros das classes, média e alta na participação no
poder político de algumas províncias.
O chefe do Governo
de Pernambuco, capitão-general e Desembargador, Caetano Pinto de Miranda
Montenegro (Marquês de Praia Grande), deliberou a prisão de alguns suspeitos,
dentre eles Manoel de Sousa Teixeira e Domingos José Martins. No dia 6 de março
de 1817, o brigadeiro Manoel Joaquim Barbosa de Castro, comandante da
Artilharia em Pernambuco, deslocou-se até o seu quartel, ordenando a detenção
de dois capitães, Domingos Teotônio Jorge e José de Barros Lima, o Leão
Coroado. Esse oficial, por sua vez, declarou insolência à monarquia, varando
sua espada no corpo do brigadeiro Manoel Barbosa e liderando um motim no
quartel e pondo-se a favor da causa republicana. Ciente disso, o Marquês de
Praia Grande enviou seu ajudante de ordens, o tenente-coronel Alexandre Thomaz,
para estancar a revolta. No entanto, o capitão Pedro da Silva Pedroso, a favor
da república, liderou os disparos contra o tenente-coronel, assassinando-o.
O levante
intensificou, impossibilitando o Marquês de Praia Grande de anular a revolta.
Ele, que nessa altura permanecera no Forte do Brum, anunciou a capitulação,
retirando-se para o Rio de Janeiro entre os dias 7 e 8 de março de 1817. Após
ocuparem o Forte do Brum, os republicanos foram até o Campo do Erário (atual
Praça da República), propondo um governo provisório que aglutinasse cinco
setores da política pernambucana. Formaram então, Manoel Correia de Araújo
(representante da agricultura); Domingos José Martins (comércio); padre João
Ribeiro, (clero); José Luís de Mendonça, (magistrados); Domingos Teotônio
Jorge, (Forças Armadas). Para auxiliar esse governo, formou-se também um
conselho com Gervásio Pires Ferreira, Antônio de Moraes e Silva, Antônio Carlos
de Andrade Machado e Silva, o clérigo Bernardo Luiz Ferreira Portugal e Manuel
José Pereira Caldas e para secretário de governo, o Padre Miguel Joaquim
d’Almeida Castro, o Miguelinho. Os membros decretaram medidas políticas, como o
livre comércio, inclusive com as nações que se encontrassem em guerra com a
Coroa de Portugal, a permanência de portugueses que não se opusessem ao modelo
republicano, a continuação do sistema escravista, a solicitação de homens
dispostos a formarem companhias de cavalaria, concedendo inicialmente o posto
de capitão aos interessados. Proibiram a imigração sem licenças e autorizaram a
impressões locais, utilizando, portanto, a “Officina Typographica da 2ª
Restauraçam de Pernambuco. Nela imprimiu-se o Preciso dos successos que tiveram
logar em Pernambuco, desde a faustissima e gloriosissima revolução operada
felizmente na praça do Recife, aos seis do corrente mez de março, em que o
generoso esforço dos nossos bravos patriotas exterminou daquella parte do
Brazil o monstro infernal da tyrania real” (SANTOS, 2006, p. 42).
Em seguida, o
movimento ganhou o apoio da Ilha de Itamaracá, decretou a prisão do Juiz de
foro de Goiana, associado à Monarquia e mandou emissários às províncias da
Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Bahia. As duas primeiras foram ocupadas
pelos republicanos. A Paraíba, repleta de ex-alunos do Seminário de Olinda não
encontrou dificuldades em ser ocupada; inserindo um governo provisório nos
moldes de Pernambuco por Manoel Clemente Cavalcante, André Dias de Figueiredo e
João Batista do Rego em 14 de março de 1817. No Rio Grande do Norte, auxiliados
pelo coronel André de Albuquerque Maranhão, o tenente-coronel José Peregrino e
o capitão-mor João de Albuquerque Maranhão, criaram em 19 de março, uma junta
dirigida pelo vigário Feliciano José Dornellas. Já no Ceará, José Martiniano de
Alencar, foi preso no Crato e enviado para Fortaleza. Na Bahia, José Inácio de
Abreu e Lima, o padre Roma, foi surpreendido e capturado pelo capitão-general
Conde dos Arcos, na praia de Itapoã. A sua ida, que a princípio era sigilosa e
importante para articulações políticas da causa republicana foi descoberta
antes mesmo de sua chegada. Na íntegra, o Conde formou no tribunal, um
julgamento contra o padre Roma, que ao entardecer de 29 de março de 1817, foi
executado por arcabuzes, inclusive obrigatoriamente assistido pelo seu filho, posteriormente
conhecido como general Abreu e Lima.
João de Barros
Falcão, foi designado para a Ilha de Fernando de Noronha a fim de trazer ao
Recife, alguns militares e recrutar presos condenados por penas mais leves. Antônio
Gonçalves da Cruz Cabugá foi aos Estados Unidos no intuito de comprar
armamentos e recrutar soldados franceses dispostos a servirem ao governo de
Pernambuco. Já Henry Koster partiu para a Inglaterra, tentando algumas
negociações diplomáticas nesse país.
Ciente da Revolução,
o Conde dos Arcos enviou tropas, sob o comando do marechal Joaquim de Mello
Leite e algumas embarcações militares para bloquear o porto do Recife. A Corte
também mandou um efetivo sob as ordens do almirante Rodrigo José Ferreira Lobo.
Devida a amplitude dos militares a serviço da Monarquia, as províncias do Rio
Grande do Norte e Paraíba, foram rendidas sem maiores conflitos. Em Pernambuco,
algumas derrotas foram infligidas aos republicanos. Domingos José Martins foi
ferido e preso em Porto de Galinhas e Francisco de Paula Cavalcanti derrotado
em Ipojuca pelo marechal Mello Cogominho. Ao desencadear do cerco, os
pernambucanos pediram a rendição pacífica à Corte, que por sua vez negou o
pedido. A partir dessas vicissitudes, grande parte dos republicanos se ausentou
do Recife, partindo para o interior e permitindo a ocupação da cidade pelo
almirante Rodrigues Lobo.
Após esses fatos,
iniciou-se a perseguição aos insurretos. Francisco de Paula Cavalcanti, o
vigário Pedro Gonçalves Jacome Bezerra, José Luiz de Mendonça, o padre Miguel
Joaquim de Almeida e Castro foram enviados à Bahia, a bordo do navio Carrasco.
Na segunda leva, cerca de 30 condenados, dentre eles Francisco Muniz Tavares,
Pedro da Silva Pedroso, José Mariano, Antônio Carlos de Andrada e Silva e Frei
Caneca seguiram no porão da corveta Mercúrio. Os quatro últimos tiveram os
pescoços acorrentados e os pés agrilhoados, o que causava peso ao corpo e os
obrigava a viajarem deitados. No dia 10 de junho instalou-se um tribunal que
sentenciou Domingos José Martins, José Luiz de Mendonça e o Padre Miguelinho à
execução por arcabuzes após dois dias, no Campo da Pólvora. Em Pernambuco, o
padre João Ribeiro, passado três dias do seu suicídio, teve o corpo exumado,
degolado e espetado numa estaca, a fim de amedrontar futuras rebeliões.
No dia 29 junho de
1817, tomou posse da Província de Pernambuco o capitão-general Luiz do Rego
Barreto. Autorizado pela Corte, promoveu as execuções de alguns líderes da
revolução. Antônio Henriques Rabello foi enforcado. Após tal, sua cabeça foi
retirada e espetada em um poste junto à forca. Suas mãos foram decepadas e
afixadas na Ponte do Recife e o restante do corpo arrastado por cavalos até o
Cemitério da Matriz, no bairro de Santo Antônio. Cerca de uma semana após o
feito, procedimento semelhante foi aplicado a Pedro de Souza Tenório, José de
Barros Lima, o Leão Coroado e Domingos Theotonio Jorge. Da Paraíba, vieram para
se submeter à execução, o coronel Amaro Gomes Coutinho, o tenente-coronel
Francisco José da Silveira, Ignácio Leopoldo d’Albuquerque Maranhão e o padre Antônio
Pereira d’Albuquerque José Peregrino de Carvalho. No Rio Grande do Norte houve
o assassínio de André de Albuquerque Maranhão. No dia 6 de fevereiro de 1821,
D. João VI decretou anistia aos demais acusados.
Todavia, algumas
medidas do capitão-general Luiz do Rego Barreto, que favoreciam através de
eleições, deputados portugueses, causaram animosidades entre lusitanos e
brasileiros. Em Goiana, o descontentamento foi liderado por Francisco de Paula
Gomes dos Santos. Em Olinda e Afogados, houve embates dos revoltosos e o
exército de Luiz Barreto, que no dia 26 de outubro de 1822 assinou uma espécie
de armistício, conhecido como A Convenção de Beberibe. Nela, o capitão-general
podia se retirar, pacificamente, para Portugal, assim como os seus adeptos.
Após a rendição, Gervásio Pires Ferreira, tornou-se o governador da província
de Pernambuco, no dia 28 de outubro.
Na transição
1822-23, uma nova revolta emerge, expulsando Gervásio Pires do cargo público e
constituindo um governo provisório constituído dos seguintes membros: Affonso
d’Albuquerque Maranhão, José Mariano d’Albuquerque Cavalcanti, Francisco de
Paula Gomes dos Santos, Francisco de Paula Cavalcanti d’Albuquerque, Francisco
Paes Barreto e Manoel Ignácio Bezerra de Mello. Contudo, atritos entre membros
dessa junta, com o chefe das armas Pedro da Silva Pedroso, culminou numa
fragmentação política e na destituição de vários integrantes. Enfraquecido, o
conselho cedeu e outro governo temporário presidido por Manuel de Carvalho Paes
d’Andrade e secretariado pelo Doutor José da Natividade Saldanha foi
constituído.
ALGUNS PARTICIPANTES
André de Albuquerque
Maranhão: Nascido no Rio Grande do Norte era senhor da casa de Cunhaú e coronel
das milícias a cavalo. Foi um dos líderes do movimento separatista, tornando-se
presidente do Governo Provisório no Rio Grande do Norte. Mas opositores vararam
seu corpo com espadas. Perto de sua morte, seu amigo o padre Dornellas prestou
lhe as últimas orações. Foi enterrado com grilhões em seu cadáver.
Antônio Henriques
Rabello: Nascido no Ceará mudou-se na infância para o Recife, ingressando na
carreira militar. No dia 6 de março de 1817, ocupava o posto de segundo tenente
do Regimento de Artilharia. Alastrado o movimento republicano, Antônio Rabello
uniu-se a outros adeptos das circunstâncias, ocupou o Forte do Brum e o Campo
do Erário. Depois assumiu o comando da então Fortaleza das Cinco Pontas. Mas,
com o declínio da República, foi Antônio preso, julgado e no dia 5 de julho de
1817 no Campo da Honra (atual Praça da República) executado. Depois do
ocorrido, cortaram-lhe a cabeça, espetando-a próxima da forca. Ainda deceparam
suas mãos, fincando-as na Ponte do Recife. O restante do corpo foi arrastado
por um cavalo até o Cemitério da Matriz do Santíssimo Sacramento, no bairro de
Santo Antônio.
Antônio Gonçalves da
Cruz Cabugá: Foi um pernambucano abastado, adepto das ideias liberais
franco-americanas, sofrendo perseguições por alguns políticos realistas. Na
iminência de maiores desdobramentos, leia-se prisão, Cruz Cabugá vendeu seus
bens e estabeleceu residência em Nova Iorque. Após o dia 6 de março de 1817,
recebeu a incumbência de negociar a legitimação de um estado pernambucano
independente, diante da embaixada dos Estados Unidos em Washington. No entanto,
o malogro da Revolução Pernambucana impediu a articulação diplomática, uma vez
que o movimento foi sufocado antes das negociações de Cruz Cabugá. Em 1826,
retornou ao Brasil e foi nomeado cônsul-geral do Império nos Estados Unidos.
Bernardo Luiz
Ferreira Portugal: Nasceu no Recife em 1755. Logo jovem foi para Portugal, onde
cursou Direito na Universidade de Coimbra e obteve os graus de Doutor em
Cânones e Direito Civil. Na mesma época se ordenou na Igreja Católica e em
meados de 1780, se encontrava no Recife, trabalhando como advogado. Suas ideias
políticas causaram descontentamento em alguns membros do Clero, culminando em
seu degredo para a capitania do Pará em 1795. Mesmo assim, conseguiu Bernardo
se articular, regressando a Pernambuco em fins do século XVIII. Em 1817, teve
ligações profundas com o movimento separatista, inclusive discursando na
solenidade de adoção da bandeira republicana e tornando-se Deão de Olinda.
Entretanto, com o isolamento das tropas locais e a chegada do efetivo real, foi
preso no Varadouro e mandado a bordo do navio Carrasco para a Bahia. Sob
julgamento, foi livrado da pena de morte, mas passou 4 anos na cadeia baiana,
até a concessão da anistia em 1821. Passou mais tempo na Bahia até regressar ao
Recife, onde exerceu os cargos de vigário geral do Bispado, juiz dos
casamentos, comissário do Santo Ofício, procurador fiscal da Tesouraria da
Fazenda, conselheiro do Governo e Vice-Presidente da Província no ano de 1832.
Domingos José
Martins: Nascido no Espírito Santo partiu na juventude para a Bahia. Depois foi
para Lisboa, presenciando o regime despótico em voga. Através de negócios bem
sucedidos, estabeleceu pontos comerciais no Maranhão, Ceará, Bahia e
Pernambuco, este último lugar, constituindo sua residência no ano de 1815. Seu
engenho no Cabo foi determinante para reuniões de adeptos da República. Ficou
Domingos rapidamente conhecido como separatista, inclusive pelos monarquistas.
O governador Caetano Pinto Montenegro ordenou sua prisão. Mas, Domingos não passou
muito tempo nela, pois no dia 6 de 1817 foi libertado em virtude da eclosão do
movimento separatista. Logo compõe o governo provisório, ocupando o cargo de
representante do Comércio. Diante das questões militares, partiu para a
Campanha de Pindoba, no dia 30 de abril de 1817, onde surgiram divergências
geopolíticas entre ele e o General Suassuna. Esse, segundo Dias Martins (1853,
p. 264), era a favor da capitulação, tendo em vista a desvantagem numérica das
tropas pernambucanas perante o exército realista. Já Martins concordava com o
prolongamento das batalhas. Entretanto, foi abandonado por muitos que
discordavam de suas estratégias. Nessa condição, refugiou-se em lugares como
Porto de Galinhas, onde foi preso pelos realistas e mandado para a Bahia a bordo
do navio Carrasco. Após o julgamento, foi condenado ao arcabuzamento em 12 de
junho de 1817.
Domingos Teotônio
Jorge Martins Pessôa: Nascido no Recife seguiu carreira militar. Ocupava a
patente de capitão, sendo um dos comandantes do Regimento de Artilharia do
Recife, quando lhe foi decretada prisão no dia 6 de março de 1817. Sua atuação
em lojas maçônicas também foi fundamental para a articulação do movimento
republicano em Pernambuco. Domingos Theotonio viajou até Bahia e Rio de Janeiro
a fim de construir relações políticas entre os maçons daqueles lugares. Na
consolidação do Governo Provisório, foi promovido a general das tropas
pernambucanas. Mas, as o contra-ataque dos militares reais, impossibilitou
vários planos de Domingos. Mesmo assim, ainda ocupou o cargo de governador
civil e militar do Partido da Independência em Pernambuco. Perdida a revolução,
foi preso, julgado e enforcado, no dia 10 de julho de 1817. Depois foi degolado
e teve a cabeça exposta num poste do Pátio da Soledade; suas mãos foram
decepadas e exibidas no Quartel de Artilharia. O restante do corpo foi
arrastado por cavalo até o cemitério no bairro se Santo Antônio.
Francisco de Paula
Cavalcanti (General Suassuna): Nascido no Recife teve uma educação financiada
por seus pais. Posteriormente, entrou na carreira militar e aproximou-se das
leituras relacionadas às ideias da Democracia e do Liberalismo. Em 1801, foi
preso sob a acusação de uma suposta revolução, na qual Pernambuco seria
protegido por Napoleão Bonaparte. A administração da capitania tolheu Francisco
de Paula de receber qualquer visita em seu cárcere, à exceção de médicos, na
tarefa de assistirem sua saúde. Foi libertado em 1802, recebendo
posteriormente, o titulo de fidalgo e o de coronel do Engenho Suassuna, local esse,
utilizado em prol de um movimento republicano. Eclodida a Revolução
Pernambucana, foi promovido a general de divisão do exército patriótico. As
tropas reais, mais numerosas, entraram em Pernambuco e travaram combates contra
o general Suassuna, que partiu em retirada para o Recife, sendo preso em 1817,
levado à Bahia no brigue Carrasco e detido na cadeia até o ano de 1821, quando
também falece retorna a Pernambuco e falece.
Francisco Muniz
Tavares: Nasceu no Recife, em 16 de janeiro de 1893. Abraçou a carreira
eclesiástica, celebrando sua primeira missa em Pernambuco no ano de 1816. Foi
nomeado capelão do Hospital do Paraíso, onde havia uma suposta academia, que
escamoteava a estrutura de um clube de discussão das ideias liberais. Francisco
Muniz acabou afirmando sua visão republicana e participou do movimento
separatista em Pernambuco. No entanto, após a derrota e perda de territórios,
Muniz Tavares, juntamente com outros pernambucanos, foi preso e mandado a bordo
no navio Mercúrio para a Bahia. Após julgamento, passou anos na cadeia, até
receber anistia em 1821. Em seu regresso a Pernambuco, conseguiu a nomeação de
professor régio da cadeira de latim, na vila do Cabo. Sua participação em
futuros atos políticos continuou. Não somente, desempenhou atividades
intelectuais e teve valiosa contribuição acadêmica. Em 1840, publicou pela
Typographia Imparcial de L. I. R. Roma a História da Revolução de Pernambuco de
1817. Outras edições foram lançadas posteriormente, inclusive uma em 1917, em
comemoração ao centenário da Revolução, exemplar esse, contido na Biblioteca
Pública de Pernambuco.
Gervásio Pires
Ferreira: Nasceu no Recife em 26 de junho de 1765, mas constitui vida em
Portugal, até a invasão das tropas de Napoleão Bonaparte, quando retornou a
Pernambuco em 1808 e estabeleceu atividades de negócios, abrindo casas de
crédito. Até o dia 6 de março não era contado por muitos partícipes do
movimento republicano enquanto colaborador da referida causa. Todavia, começada
a mudança do cenário político, teve Gervásio Pires adesão fundamental,
colaborando em questões ideológicas e materiais, haja vista o uso de seu navio
Espada de Ferro, no intuito de levar pernambucanos aos Estados Unidos para
trazerem armamentos. No dia 11 de março de 1817 foi eleito presidente do Erário
Nacional e posteriormente nomeado conselheiro do governo. Com a retaliação
monárquica, foi Gervásio capturado e detido na Bahia durante 4 anos. No retorno
a Pernambuco, desempenhou mais funções na esfera política e após a Convenção de
Beberibe em 1821 foi nomeado presidente da Província. Mas, algumas
fragmentações entre os pernambucanos e a desconfiança perante vários
portugueses, influiu em seu apreço político, levando Gervásio à deposição de
seu cargo em menos de um ano e partindo para o Rio de Janeiro. Passado o
período de levantes, Gervásio voltou a Pernambuco, onde faleceu no dia 9 de
março de 1836 e teve o corpo sepultado na Igreja de Nossa Senhora do Rosário,
no bairro da Boa Vista.
João Ribeiro Pessoa
de Mello Montenegro: Nasceu em Tracunhaém, no dia 28 de fevereiro de 1766.
Orientado pelo Dr. Arruda Câmara, aproximou-se do estudo das Ciências Naturais,
notadamente da Botânica. Veio para o Recife e entrou no Convento de Nossa
Senhora do Carmo, passando em seguida, para o Seminário de Olinda, como lente
na cadeira de Desenho. Posteriormente, seguiu para Lisboa, onde se matriculou
no Colegio dos Nobres. De volta ao Recife, relacionou-se com a Maçonaria e
construiu uma biblioteca particular em sua residência, disponibilizando volumes
para vários companheiros de movimento. Durante a Revolução, foi nomeado membro
do Governo Provisório, no dia 8 de março de 1817. Durante os conflitos com as
tropas reais, foi encurralado e descontente com o malogro de algumas
investidas, enforcou-se, tendo o sepultamento na capela do Engenho de Paulista.
Mesmo assim, passados três dias de seu suicídio, teve o corpo exumado, degolado
e espetado numa estaca, como alerta a futuros insurretos.
Joaquim do Amor
Divino Caneca: Nasceu no Recife em 1779, no seio de uma família da classe
média. Seu último nome era Rabello, que foi substituído por Caneca em homenagem
ao ofício do seu pai de tanoeiro. Seguiu a vida eclesiástica, entrando no
convento em 1796. Participou do movimento separatista em 1817, pois já frequentava
os clubes de edeias liberais, desempenhando uma importante função na propagação
dessas edeias, inclusive fora de Pernambuco. Com a entrada das tropas
realistas, foi preso, enviado à Bahia no navio Mercúrio, ficando no cárcere até
1821. Nesse tempo escreveu diversos textos, muitos inclusive de poesia. Após
sua libertação, participou de mais ações contra a Monarquia. É conhecido pelas
críticas ao Imperador no movimento separatista de 1824, intitulado Confederação
do Equador, o qual levou Frei Caneca ao arcabuzamento.
José de Barros Lima:
Conhecido também como Leão Coroado nasceu em meados do século XVIII no Recife.
Quando jovem, adentrou na carreira militar, mas pediu baixa e foi nomeado
diretor da aldeia de índios de Limoeiro entre 1794 e 1796. Voltou ao Exército,
lotado no Regimento de Artilharia, após o cursar Matemática em Lisboa. Declarou
simbolicamente o início da Revolução Pernambucana, após rejeitar a ordem de sua
prisão, varando o corpo de seu acusador, o brigadeiro Manoel Joaquim de Barbosa
e Castro, no dia 6 de março de 1817. Foi promovido ao posto de coronel no dia
26 de março do mesmo ano. Diante da perseguição das tropas reais, ausentou-se
do Recife, migrando para o Engenho Paulista. Foi detido em 6 de julho de 1817 e
enforcado quatro dias depois. Depois da sentença, teve a cabeça cortada e
fincada num poste em Olinda. Suas mãos decepadas e expostas no Quartel de
Artilharia. O restante do corpo foi arrastado e sepultado.
José Inácio Ribeiro
de Abreu e Lima: Conhecido também como Padre Roma nasceu no Recife em 1768.
Descendente de uma linhagem de militares tornou-se padre no Instituto
Carmelitano, com o nome de Frei José de Santa Rosa. Na década de 1780, partiu
para Universidade de Coimbra, onde alcançou o grau de bacharel em Teologia. Em
seguida foi à Itália, residindo alguns anos. Em 1807, consumou a nulidade de
sua carreira eclesiástica, voltando a Pernambuco, trabalhou como advogado,
alcançando certa expressão em seu meio. A partir de tal, expôs suas posições
favoráveis à república, colaborando de frente com o movimento separatista de
1817. Ficou então o Padre Roma encarregado da articulação política do
movimento. Ele seguiu até Alagoas, onde apanhou uma balsa para a Bahia. A sua
ida, que a princípio era sigilosa, foi descoberta antes mesmo de sua chegada,
sendo o padre surpreendido e capturado pelo capitão-general Conde dos Arcos, na
praia de Itapoã. Posteriormente, formou-se no tribunal, um julgamento contra o
padre Roma. Ao entardecer de 29 de março de 1817, foi executado por arcabuzes,
inclusive obrigatoriamente assistido pelo seu filho, até então capitão e
posteriormente conhecido como general Abreu e Lima.
José Luiz de
Mendonça: Nasceu no Recife em meados do século XVIII. Seguiu carreira militar,
logrando a patente de capitão em 1814. Suas edeias receberam apreço de muitos
republicanos, haja vista a participação de José Luiz nos clubs fomentadores de
teorias liberais, como os do Cabo, de Suassuna e por ser um dos criadores da
Academia do Paraíso. Seu papel conciliador também foi importante: declarada a
Revolução Pernambucana, foi José Luiz negociar pessoalmente a retirada do
capitão-general Caetano Pinto, que estava a serviço da Coroa. Membro do Governo
Provisório, foi José Luiz contestado enquanto republicano, por considerar
relevante a criação de um documento formal, justificando ao rei D. João VI o
porquê do movimento insurreto. Respondendo aos críticos, publicou um texto
intitulado Preciso, no qual endossa as posições da república e do modelo
liberal, no dia 10 de maio de 1817. Em virtude do recuo das tropas
republicanas, rendeu-se e foi mandado à Bahia bordo do navio Carrasco. Em
seguida, foi submetido a julgamento e arcabuzado no dia 12 de junho de 1817.
José Mariano de
Albuquerque Cavalcanti: Nascido em Sobral no Ceará, participou das academias do
Paraíso e Suassuna, envolvendo-se também com a declaração da república em
Pernambuco, com a morte do Brigadeiro Manoel Barbosa e a libertação dos presos
associados ao movimento separatista. Não obstante, foi eleito governador de
Olinda e general em Alagoas. Derrubado o movimento, mandado à Bahia na
embarcação Mercúrio, onde permaneceu encarcerado, mesmo declarada a anistia em
1821. Essa lhe foi negada sob acusação de assassínio do brigadeiro Manoel
Barbosa. Apelou, portanto para o governo em Lisboa, no intuito de perdoá-lo, o
que ocorreu posteriormente. Ainda participará de outros momentos políticos,
compondo a Junta Provisória em Pernambuco, por volta de 1822.
José Martiniano de
Alencar: Nascido no Crato estudava no Seminário de Olinda quando estourou o
movimento republicano em 1817. Em seguida, partiu ao Ceará no intuito de
aglutinar pessoas dispostas à referida causa e declarar independência diante da
Monarquia. No entanto, com a retenção do movimento, foi preso e após soltura,
envolveu-se com políticas de outras localidades, inclusive partindo para
Portugal, onde foi deputado. Depois emigrou para Londres em 1823.
José Peregrino
Xavier de Carvalho: Nascido na Paraíba teve contribuição no movimento
separatista desse local. Com a sua prisão, foi mandado ao Recife, acusado de
líder dos republicanos e enforcado no Campo do Erário em 21 de agosto de 1817.
Suas mãos e cabeças, as quais enviaram à Paraíba. O restante do corpo foi
arrastado por cavalo até o cemitério da Igreja do Santíssimo Sacramento de
Santo Antônio no Recife.
Manoel Clemente
Cavalcanti: Residente em Itabaiana foi crucial no apoio ao movimento
separatista pernambucano, principalmente em sua disseminação na Paraíba, no dia
14 de março de 1817. Participou da batalha da Pindoba em 15 de maio. Foi preso
e mandado para a Bahia, julgado e encarcerado até março de 1821. Uniu-se aos
pernambucanos contra o governador Luiz do Rego Barreto em Goiana.
Posteriormente, estabeleceu relações com o Imperador D. Pedro I, sendo nomeado
conselheiro no Rio de Janeiro em 1822.
Manoel Corrêa
d’Araújo: Recifense de família opulenta era coronel, cujos soldados defendiam o
Edifício do Erário no dia 6 de março de 1817 e se uniram aos demais
separatistas no movimento republicano. Foi representante da agricultura no
Governo Provisório, mas durante o conflito capitulou, unindo-se ao exército
realista do capitão-mor de Santo Antão.
Manoel de Souza
Teixeira: Nascido no final do século XVIII, no seio de uma família abastada do
Recife seguiu carreira militar, chegando até tenente-coronel da Guarda Nacional
em 1843. Aproximou-se das edeias separatistas associadas a Domingos José
Martins e João Ribeiro. No dia 6 de março de 1817 foi preso e enviado ao Forte
das Cinco Pontas. Com a eclosão do movimento republicano, Manoel Teixeira foi
solto e em seguida colaborou com a insurreição. Contudo, após a derrota da
república dos pernambucanos, foi preso novamente e mandado para a Bahia a bordo
do navio carrasco. Após julgamento, foi condenado ao degredo na costa da África.
Só retornou ao Recife em 1821, após D. João VI conceder-lhe anistia. No
entanto, a partir da década de 1840, aproximou-se da monarquia, sendo
presidente e vice-presidente da província de Pernambuco e alcançando o título
de Barão de Capibaribe.
Miguel Joaquim
d’Almeida Castro: Nascido no Rio Grande do Norte veio para o Recife aos 16 anos
de idade. Estudou no instituto de Nossa Senhora do Carmo, partindo depois para
Lisboa. Conseguiu o apreço de pessoas feito José Joaquim de Azeredo Coutinho.
Retornando ao Recife, ganhou a alcunha de Miguelinho. Participou do cerco ao
Forte do Brum, no dia 6 de março de 1817. Já no dia seguinte, foi nomeado
secretário do Governo Provisório no Edifício Erário (Campo da Honra).
Desempenhou importantes funções no movimento separatista. Com a capitulação,
foi Miguelinho deslocado à Bahia no navio Carrasco. Sob julgamento foi
sentenciado à execução por arcabuzes no Campo da Pólvora em 12 de junho de
1817.
Pedro da Silva Pedroso: Nasceu no Recife, no
final do século XVIII e entrou no Regimento de Artilharia dessa cidade como
soldado, galgando até o posto de capitão em 1816. No dia 6 de março de 1817,
foi responsável da morte do tenente-coronel Alexandre Thomaz, ajudante de
ordens do capitão-general Caetano Pinto, a favor do regime monárquico. Tomando
partido da república, Pedroso ocupou o edifício do Erário e deslocou-se para o
cerco no Forte do Brum. Participou também da soltura do Domingos José Martins.
Diante do Governo Provisório, foi promovido a coronel da república. No entanto,
com a derrota dos separatistas, foi enviado à Bahia e encarcerado até 1821,
quando recebeu a condenação para o exílio na Ásia. Chegou até a Prisão do
Castelo em Portugal. Contudo, obteve a clemência e foi autorizado a retornar
para o Brasil. Mais uma vez, partícipe de novas tentativas republicanas, ocupou
o cargo de chefe das armas em Pernambuco. No entanto, divergências internas
fragmentaram o movimento, resultando em sua impossibilidade de pôr adiante um
modelo republicano. Na volta ao Brasil teve Pedro sua patente rebaixada, mas
conseguiu retomar os postos gradativamente, falecendo coronel no Rio de
Janeiro.
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