A Revolução
Pernambucana, também conhecida como Revolução dos Padres, foi um movimento
emancipacionista que eclodiu em 6 de março de 1817, na então Capitania de
Pernambuco, no Brasil.
Dentre as suas
causas, destacam-se a influência das ideias Iluministas propagadas pelas
sociedades maçônicas (sociedades secretas), a crise econômica regional, o
absolutismo monárquico português e os enormes gastos da Família Real e seu
séquito recém-chegados ao Brasil — o Governo de Pernambuco era obrigado a
enviar para o Rio de Janeiro grandes somas de dinheiro para custear salários,
comidas, roupas e festas da Corte, o que ocasionava o atraso no pagamento dos
soldados, gerando grande descontentamento do povo brasileiro.
Foi o único
movimento separatista do período colonial que ultrapassou a fase conspiratória
e atingiu o processo revolucionário de tomada do poder.
Contou com relativo
apoio internacional: os Estados Unidos, que dois anos antes tinham instalado no
Recife o seu primeiro Consulado no Brasil e no Hemisfério Sul devido às
relações comerciais com Pernambuco, se mostraram favoráveis à revolução, bem
como os ex-oficiais de Napoleão Bonaparte que pretendiam resgatar o seu líder
do cativeiro em Santa Helena, levá-lo a Pernambuco e depois a Nova Orleans.
Antecedentes
No começo do século
XIX, Olinda e Recife, as duas maiores cidades pernambucanas, tinham juntas
cerca de 40 mil habitantes (o Rio de Janeiro, capital da colônia, possuía 60
mil habitantes). O porto do Recife escoava a produção de açúcar, das centenas
de engenhos da Zona da Mata, e de algodão. Além de sua importância econômica e
política, os pernambucanos tinham participado de diversas lutas libertárias. A
primeira e mais importante tinha sido a Insurreição Pernambucana, em 1645.
Depois, na Guerra dos Mascates, foi aventada a possibilidade de proclamar a
independência de Olinda.
As ideias liberais
que entravam no Brasil junto com os viajantes estrangeiros e por meio de livros
e de outras publicações, incentivavam o sentimento de revolta entre a elite
pernambucana, que participava ativamente, desde o fim do século XVIII, de
sociedades secretas, como as lojas maçônicas. Em Pernambuco as principais foram
o Areópago de Itambé, a Patriotismo, a Restauração, a Pernambuco do Oriente e a
Pernambuco do Ocidente, que serviam como locais de discussão e difusão das
"infames ideias francesas". Nas sociedades secretas, reuniam-se
intelectuais religiosos e militares, para elaborar planos para a revolução.
A fundação do
Seminário de Olinda, filiado a ideias iluministas, deve ser levada em
consideração. Não é por outro motivo que o levante ficaria conhecido como
"revolução dos padres", dada a participação do clero católico. Frei
Caneca tornar-se-ia um símbolo disso.
Causas imediatas
- Presença maciça de
portugueses na liderança do governo e na administração pública;
- Criação de novos
impostos por Dom João VI provocando a insatisfação da população pernambucana.
Segundo escritor inglês então residente no Recife, era grande a insatisfação
local ante a obrigatoriedade de se pagarem impostos para a manutenção da
iluminação pública do Rio de Janeiro, enquanto no Recife era praticamente
inexistente a dita iluminação;
- Grande seca que
havia atingido a região em 1816 acentuando a fome e a miséria e ocasionando uma
queda na produção do açúcar e do algodão, produtos que eram a base da economia
de Pernambuco e que começaram a sofrer concorrência do algodão nos Estados
Unidos e do açúcar na Jamaica;
- Influências
externas com a divulgação das ideias liberais e iluministas, que estimularam as
camadas populares de Pernambuco na organização do movimento de 1817;
- A crescente
pressão dos abolicionistas da Europa que vinha criando restrições gradativas ao
tráfico de escravos, mão de obra que se tornava cada vez mais cara e que era o
motor de toda a economia agrária pernambucana;
- O movimento queria
a Independência de Pernambuco sob um regime republicano.
Efeitos da Revolução
em outros estados
Em 1817, a
tranquilidade da futura Vila Imperial dos Patos (atual cidade de Patos) foi
quebrada pela efervescência da Revolução Pernambucana, que culminaria no
movimento denominado Confederação do Equador. O vigário de Pombal, José
Ferreira Nobre, assumiu a função de propagá-lo em todo o Sertão da Paraíba.
Como único caminho que ligava o interior ao mundo civilizado, Patos também se
tornou rota dos revolucionários, que objetivavam proclamar uma república
baseada na constituição da Colômbia.
O decorrer da
revolução
A bandeira da
Revolução Pernambucana de 1817 (imagem) inspirou a atual bandeira de
Pernambuco. As três estrelas representam Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do
Norte, e outras estrelas seriam inseridas ao passo que outras capitanias do
Brasil aderissem oficialmente à confederação.
O movimento iniciou
com a ocupação do Recife, em 6 de março de 1817. No regimento de artilharia, o
capitão José de Barros Lima, conhecido como Leão Coroado, reagiu à voz de
prisão e matou a golpes de espada o comandante Barbosa de Castro. Depois, na
companhia de outros militares rebelados, tomou o quartel e ergueu trincheiras
nas ruas vizinhas para impedir o avanço das tropas monarquistas. O governador
Caetano Pinto de Miranda Montenegro refugiou-se no Forte do Brum, mas, cercado,
acabou se rendendo.
O movimento foi
liderado por Domingos José Martins, com o apoio de Frei Caneca e de Antônio
Carlos de Andrada e Silva (irmão de José Bonifácio). Tendo conseguido dominar o
Governo de Pernambucano, se apossaram do tesouro, instalaram um governo
provisório e proclamaram a República.
Em 29 de março foi
convocada uma assembleia constituinte, com representantes eleitos em todas as
comarcas. Nela, foi estabelecida a separação entre os poderes Legislativo,
Executivo e Judiciário; o catolicismo foi mantido como religião oficial — porém
com liberdade de culto —; foi proclamada a liberdade de imprensa (uma grande
novidade no Brasil); e foram abolidos alguns impostos. A escravidão,
entretanto, foi mantida.
À medida que o calor
das discussões e da revolta contra a opressão portuguesa aumentava, crescia,
também, o sentimento de patriotismo dos pernambucanos, ao ponto de passarem a
usar nas missas a aguardente (em lugar do vinho) e a hóstia feita de mandioca
(em lugar do trigo), como forma de marcar a sua identidade.
Expansão e queda
As tentativas de
obter apoio das capitanias vizinhas fracassaram. Na Bahia, o emissário da
revolução, José Inácio Ribeiro de Abreu e Lima, o Padre Roma, foi preso ao
desembarcar e imediatamente fuzilado por ordem do governador, o conde dos Arcos.
No Rio Grande do Norte, o movimento conseguiu a adesão do proprietário de um
grande engenho de açúcar, André de Albuquerque Maranhão, que depois de prender
o governador, José Inácio Borges, ocupou Natal e formou uma junta governativa,
porém não despertou o interesse da população e foi tirado do poder em poucos
dias. O jornalista Hipólito José da Costa foi convidado para o cargo de
ministro plenipotenciário da nova república em Londres, mas recusou.
Grupo de esculturas
representando Os Revolucionários Pernambucanos de 1817 na lateral direita do
Monumento à Independência do Brasil, em São Paulo.
No Ceará, Bárbara de
Alencar e seu filho Tristão Araripe aderiram ao movimento, mas foram detidos
pelo Capitão-mor do Crato, José Pereira Filgueiras, por ordem do governador
cearense, Manuel Inácio Sampaio e Pina Freire. José Pereira Filgueiras também
participou da luta pela Independência do Brasil no Maranhão e da Confederação
do Equador, quando se uniu a Tristão Gonçalves contra o governo imperial, sendo
considerado um de seus heróis.
Tropas portuguesas
enviadas pelo território baiano, chefiadas por Luís do Rego Barreto, avançaram
pelo sertão de Pernambuco, enquanto uma força naval, despachada do Rio de
Janeiro, bloqueou o porto do Recife. Em poucos dias 8.000 homens cercavam a
capitania. No interior, a batalha decisiva foi travada na localidade de
Ipojuca. Derrotados, os revolucionários tiveram de recuar em direção ao Recife.
Em 19 de maio as tropas entraram no Recife e encontraram a cidade abandonada e
sem defesa. O governo provisório, isolado, se rendeu no dia seguinte.
Apesar de sentenças
severas, um ano depois todos os revoltosos foram anistiados, e apenas quatro
haviam sido executados.
Auxílio externo
Em maio de 1817,
Antônio Gonçalves da Cruz, o Cruz Cabugá, desembarcou na Filadélfia (Estados
Unidos) com 800 mil dólares (atualizado ao câmbio de 2007 em aproximadamente 12
milhões de dólares) na bagagem com três missões:
- Comprar armas para
combater as tropas de D. João VI
- Convencer o
governo americano a apoiar a criação de uma república independente no Nordeste
brasileiro.
- Recrutar alguns
antigos revolucionários franceses exilados em território americano para, com a
ajuda deles, libertar Napoleão Bonaparte, exilado na Ilha de Santa Helena, que
seria transportado ao Recife.
- Porém na data de
chegada do emissário aos Estados Unidos, os revolucionários pernambucanos já
estavam sitiados pelas tropas monarquistas portuguesas e próximas da rendição.
Quando chegaram ao Brasil os quatro veteranos de Napoleão recrutados conde
Pontelécoulant, coronel Latapie, ordenança Artong e soldado Roulet, muito
depois de terminada a revolução, foram presos antes de desembarcar.
Em relação ao
governo americano, Cruz Cabugá chegou a se encontrar com o secretário de
Estado, Richard Rush, mas somente conseguiu o compromisso de que, enquanto
durasse a rebelião, os Estados Unidos autorizariam a entrada de navios
pernambucanos em águas americanas e que também aceitariam dar asilo ou abrigo a
eventuais refugiados, em caso de fracasso do movimento.
Consequências[editar
Dominada a
revolução, foi desmembrada de Pernambuco, com sanção de João VI de Portugal, a
comarca de Alagoas, cujos proprietários rurais haviam se mantido fiéis à Coroa,
e como recompensa, puderam formar uma capitania independente.
Apesar de os
revolucionários terem ficado no poder menos de três meses, conseguiram abalar a
confiança na construção do império americano sonhado por D. João VI. A coroa
nunca mais estaria segura de que seus súditos eram imunes à contaminação das
ideias responsáveis pela subversão da antiga ordem na Europa.
Data Magna
Em 2007, o dia 6 de
março foi declarado a Data Magna de Pernambuco, em virtude da Revolução Pernambucana.
Em 2009, o Governo
de Pernambuco aprovou nova lei, alterando a Data Magna do Estado para o
primeiro domingo de março.
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