segunda-feira, 6 de março de 2017

34 - A Revolução Pernambucana vista pela Folha de Pernambuco

Um País Chamado Pernambuco

O sentimento de independência estava disseminado por toda parte: era visível o descontentamento com a exploração dos reis, enquanto a afinidade com as ideias iluministas e o ideário da Revolução Francesa “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” era total

O sentimento de ser pernambucano nasceu 72 anos antes do sentimento de ser brasileiro: há dois séculos, no dia 6 de março de 1817, surgia uma nação chamada Pernambuco. A República que buscava independência da Coroa Portuguesa durou apenas 75 dias, mas deixou um legado inestimável, que nos inspira até hoje. Nas páginas a seguir, um pouco dessa história única.


75 dias de liberdade

Nada começa do acaso, muito menos uma revolução. O sentimento de independência da nação chamada Pernambuco já estava disseminado por entre suas ruas e nas rodas de conversas da elite intelectual da época quando a Revolução Pernambucana eclodiu no dia 6 de março de 1817. Uma semente que começou a ser plantada desde que os holandeses deixaram o Estado, em 1654, e que começou a ser articulada décadas antes da deflagração do movimento.
No início do século 19, Pernambuco em nada lembrava o período de desenvolvimento que foi iniciado pelo conde Maurício de Nassau. Pouca era a atenção dada pela Coroa Portuguesa ao território que chegou a ser responsável por mais da metade das exportações brasileiras no auge da cana-de-açúcar, durante o período colonial. Daqui, somente saíam gordos impostos cobrados aos comerciantes e proprietários de terras para bancar os luxos da Família Real e a construção da nova Capital do Reino Unido do Brasil no Rio.

“Os reis que vieram depois da saída dos holandeses passaram a não atender mais à burguesia e às elites, que começaram a achar que não estavam sendo recompensadas”, afirma o professor de História da Universidade Católica de Pernambuco, Flávio Cabral.

Um cenário que contrastava com o espírito de modernização que a sociedade vivenciava. A economia pernambucana começava a se reinventar para os novos tempos. Ganhava espaço o comércio, a produção de algodão, couro, madeira e produtos tropicais. Uma nova burguesia ascendia, enquanto as elites tradicionais mantinham suas terras e sua influência. Em comum, ambos guardavam o ressentimento de perda do poder político do Estado.

A ebulição social, porém, não era refletida na infraestrutura das cidades. Não havia investimentos que compensassem os altos impostos pagos pelos pernambucanos. O interior estava relegado às constantes secas e problemas de serviços básicos como falta saneamento e iluminação afetavam os centros urbanos.

Uma situação que inflamou um crescente sentimento de revolta popular que encontrou um espelho nos acontecimentos revolucionários que se alastravam ao redor do mundo. Era o período do iluminismo e o lema da “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” da Revolução Francesa ecoava pelos países, provocando movimentos separatistas em toda a América, desde os Estados Unidos até as colônias espanholas.

No Brasil, movimentos começavam a brotar em Minas Gerais (Inconfidência Mineira, 1789) e na Bahia (Conjuração Baiana, 1798), mas nenhum teria tamanha ousadia como se viu em Pernambuco, no século seguinte.

Um legado de ideias         

As ideias que se espalhavam pelo Planeta não tardaram a alcançar a elite intelectual. O acesso à informação era limitado. Apesar do Estado passar por uma modernização do seu ensino, a literatura estrangeira, sobretudo a iluminista, e os jornais estrangeiros, eram proibidos ou não chegavam à província. As ideias eram fomentadas nos seminários e nas maçonarias, trazidas pelos pernambucanos que iam ao exterior e entravam em contato com os ideais revolucionários. É o caso do líder do movimento João Ribeiro, que estudou em Lisboa, e de Manuel de Arruda Câmara, que viu de perto a Revolução Francesa em 1789.
A união entre os ideais iluministas e o sentimento de insatisfação em Pernambuco criaram um caldeirão prestes a explodir a qualquer momento. As conspirações por uma federação independente se fortaleciam. O objetivo era esperar até a Semana Santa, quando todos estivessem em festa nas ruas. O momento ideal para a revolução surpreender a Corte, mas um fato inesperado iria antecipar os planos dos revolucionários.


Os revolucionários

No dia 6 de março, chegou aos ouvidos do então governador, Caetano Pinto, denúncia de que a rebelião estava prestes a eclodir. Reunido com o Conselho Militar da Capitania, formado por oficiais portugueses graduados, foi dada a ordem para prender os líderes revolucionários. Os primeiros detidos foram os comerciantes Domingos Martins e Antônio da Cruz Cabugá, além do padre João Ribeiro Montenegro.

Entretanto, quando chegou a vez dos militares o quadro mudou. A faísca que faltava para acender a revolução surgiu no Forte das Cinco Pontas. Ao dar ordem de prisão aos rebeldes, o brigadeiro português Manoel Barbosa foi morto pelo capitão José de Barros Lima, o Leão Coroado, que em seguida - após os oficiais portugueses fugirem do local - uniu a tropa e libertou os aprisionados.

O extremismo do ato fez o movimento restrito a espaços secretos ganhar as ruas. O governador Caetano Pinto acabou fugindo do Palácio e se abrigou no Forte do Brum, de onde foi expulso. Começava então os 75 dias em que quatro estados nordestinos (Alagoas, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte), se juntaram em uma única nação chamada Pernambuco, 70 anos mais jovem que a brasileira.


O Pão de Trigo foi Substituído pela Tapioca e o Vinho pela Cachaça

Hábitos europeus foram substituídos por costumes genuinamente locais, mudando, inclusive, a celebração das missas onde as hóstias eram feitas de mandioca.

Logo após a decretação da nova República, os seus idealizadores trataram de apagar o passado. Os símbolos da Coroa Portuguesa foram retirados das instituições públicas e das ruas. “Quando o novo governo tomou conta, mensagens começaram a chegar mandando tirar os símbolos reais. Os brasões da Coroa eram retirados e quebrados, os retratos do rei colocados de cabeça para baixo”, relata o professor da Universidade Católica de Pernambuco, Flávio Cabral.

Hábitos europeus foram substituídos por costumes genuinamente locais. O pão de trigo foi substituído pela tapioca e o vinho pela cachaça, mudando, inclusive, a celebração das missas onde as hóstias eram feitas de mandioca. No tratamento, o formal vosmicê foi trocado pelo então informal “vós” e os revolucionários faziam questão de se referir entre eles como “patriotas”.
Como símbolo da nova Nação que surgia, uma nova bandeira teve a benção na Praça da República. Em seu desenho uma cruz vermelha retratava a força da Igreja Católica sob um fundo branco representando a paz. Acima da cruz, um arco-íris aludia a união e diversidade da federação e estrelas caracterizavam os estados que aderiram ao projeto. As semelhanças não são mera coincidência. A mesma bandeira foi oficializada 100 anos depois, na comemoração do centenário de Pernambuco, em 1917, e se tornou símbolo oficial do Estado até hoje.

Sob o novo manto, Pernambuco se tornava pioneiro em experiências progressistas para a época. Os ideais revolucionários eram espalhados por meio de uma nova tecnologia - a Imprensa. Sete anos antes da chegada oficial de um veículo de comunicação no Estado, o jornal Aurora, em 1824, os revolucionários utilizaram uma prensa para propagar suas ideias. Panfletos eram impressos no Poço da Panela para serem distribuídos, pregados em postes ou anunciados em praças, disseminando a mensagem do novo governo.

Na esfera política-administrativa, a realização de eleições e a criação de uma lei orgânica revolucionavam, também, a vida pública. No antigo edifício do Erário Público, próximo de onde hoje fica o Palácio das Princesas, os principais líderes do movimento se reuniram e elegeram membros para compor uma junta com representação dos principais segmentos da sociedade. Nas ciências humanas, o reconhecimento de direitos e garantias individuais eram assegurados em pleno regime absolutista. A legislação vigente introduzia conceitos revolucionários para a época, mas que hoje em dia são atuais, como a tolerância religiosa, igualdade entre os povos e a liberdade.

Ideias tão à frente do seu tempo que começaram a criar tensões entre a burguesia moderna e a elite tradicional, expondo as contradições do próprio movimento. O ponto nevrálgico da revolução era, justamente, a libertação dos escravos, mas também o embate entre uma elite mais moderna que queria transgredir os padrões da época e outra mais conservadora que queria manter suas tradições.

“A escravidão era a caixa de pandora da revolução. Era um ponto de tensão. Havia revolucionários que não concordavam com a escravidão, mas não podiam bater de frente com a elite tradicional e perder apoio para a nova república”, relata o historiador George Cabral.


Alianças Internacionais e a Vingança da Coroa

Os Estados Unidos foram um dos países procurados por Cruz Cabugá para garantir armas e soldados, a fim de fortalecer o projeto local. Os americanos chegaram a fechar tratados com os pernambucanos

A criação de uma nova República não poderia se sustentar sozinha sem o apoio e reconhecimento das grandes potências mundiais para garantir sua legitimidade. Com planos tão grandes e ousados quanto seus sonhos, os revolucionários atravessaram fronteiras em busca de fortalecimento.

O principal emissário dos planos era Antônio Gonçalves da Cruz, conhecido como Cruz Cabugá, que desembarcou nos Estados Unidos para angariar apoio, com recursos do erário da província. O objetivo era garantir armas e soldados para lutar nas trincheiras da revolução e estabelecer laços econômicos e políticos com o potencial parceiro.

A chegada de Cruz Cabugá foi noticiada por várias gazetas dos Estados Unidos, que espalhara o que acontecia em Pernambuco para o mundo. Ele foi recebido pelo secretário de Estado norte americano, Richard Rush (1780-1859), com quem foram estabelecidos tratados de aliança com o País, inclusive que os Estados Unidos garantiriam o reconhecimento de navios que chegassem em seu território com a bandeira de Pernambuco.

A cópia da bandeira do Estado em aquarela com todos os significados dos seus símbolos em inglês que foi entregue por Cruz Cabugá está até hoje na secretaria de Estado dos Estados Unidos. “Cabugá foi uma espécie de embaixador da nova República nos Estados Unidos. Em cartas é possível ver a simpatia do secretário americano pela revolução de Pernambuco. Ele ficou encantado pelas ideias e ideais do Estado”, relata Flávio Cabral, que está escrevendo um livro sobre a expedição do emissário dos Estados Unidos.

O apoio maior dos Estados Unidos esbarrava, contudo, na neutralidade dos americanos devido aos seus interesses internacionais. No entanto, foram feitos gestos. Um cônsul-geral americano, Joseph Ray, foi nomeado para atuar no Recife e dar apoio, abertamente, à nova República.

A ofensiva de Cabugá, contudo, não contava com a investida do abade José Correa da Serra, embaixador do Reino Unido de Portugal nos Estados Unidos, que tinha a missão de impedir que os EUA reconhecessem a nova República. Cabugá era espionado, seguido e todas as suas ações eram reportadas à Coroa portuguesa.

A ofensiva de Cabugá não se limitou aos ingleses e americanos. O embaixador tinha a ordem expressa de conversar com José Bonaparte, irmão do célebre comandante francês Napoleão Bonaparte. Os dois chegaram a ter uma conversa na Filadélfia. “Cabugá saiu para contratar soldados franceses para reforçar as tropas revolucionarias. Três deles, inclusive, chegaram em Pernambuco, mas neste momento a revolução foi abafada e eles foram presos”, conta.

O plano mais ousado, no entanto, era resgatar Napoleão, que estava exilado em Santa Helena desde 1915. “José Bonaparte achou interessante o plano em Pernambuco e vinha projetando tirar o irmão da Ilha de Santa Helena. Ele pensou que a confusão no Brasil seria um bom momento para tentar tirá-lo de lá via Fernando de Noronha. De lá, Napoleão chegaria nos Estados Unidos”. Os relatos estão guardados até hoje na sede do Itamaraty.


A vingança da Coroa Portuguesa

A ânsia pelos valores republicanos e a insatisfação com a Coroa Portuguesa levaram os revolucionários a precipitar um movimento ousado, sem mesurar suas conseqüências. E a Revolução, rapidamente, se tornou alvo da monarquia, que organizou um rápido contra-ataque.

Uma forte e violenta repressão militar foi aberta contra os revolucionários, de forma a cercar o governo provisório e evitar que conseguissem apoio de outros estados. As tropas portuguesas atacaram pelo interior e mar, cercando-os. O rei Dom João VI mobilizou forças do Rio de Janeiro e os oficiais partiram da Bahia e entraram em Alagoas para encurralar os revolucionários pelo Interior, enquanto o Porto do Recife foi cercado por uma grande esquadra.

“Colocar uma rebelião dessa na rua, sem exército, contra a Coroa, foi um sonho. Bastava qualquer força para destruí-los e foi o que aconteceu. No interior de Pernambuco, ninguém sabia que revolução era esta. Era um movimento litorâneo, que se espalhou até Limoeiro. No restante do Estado, diziam que os revolucionários fizeram um pacto com o demônio, havia uma tentativa de desconstruir o que acontecia”, afirma o historiador Flávio Cabral.

A partir de então, foi aberto um período de caça às bruxas e terror. Os que não morreram na batalha foram presos e muitos acabaram sendo sacrificados para servir como exemplo.


Domingos fez uma revolução para casar com a amada

A revolução de 1817 não foi feita apenas de atos heroicos e de anseios libertários. Também teve uma grande história de amor, que culminou no casamento de Domingos José Martins e Maria Teodora da Costa ,no dia 14 de março, pouco depois da República ser decretada. Uma união, na visão do jornalista e pesquisador Paulo Santos de Oliveira- autor do livro A noiva da revolução, que pode ser considerada a mais importante da história do Brasil.

Paulo se pauta nos seguintes argumentos. Lembra que o casamento afrontava um forte preconceito, pois foi a primeira vez que um enlace entre um brasileiro e uma portuguesa rica teve a benção da família da moça. “Domingos fez uma revolução para casar com a amada”, brinca Paulo, que lembra, ainda, que a união teve a peculiaridade de ser realizada por amor -depois de 4 anos de namoro escondido - quando, no período, eram comuns arranjos de conveniência, celebrados pelos pais. Também foi importante o fato de ter significado uma aproximação entre portugueses e pernambucanos, que viviam em pé de guerra.

O casamento aconteceu na capelinha do Parque da Jaqueira. Na cerimônia, Teodora e as damas de honra apareceram com cabelos curtíssimos, algo incomum à época. Gesto, segundo Paulo, que alude às revolucionárias francesas de 1789 e demonstra, claramente, sua afinidade com os ideais defendidos pelo marido. Apesar de tanto amor, a história não foi duradoura nem teve um final feliz: Domingos foi fuzilado em 12 de junho, menos de três meses depois da celebração.


De Quantas Revoltas é feito Pernambuco

O fim da rebelião se dá em 1848 e em 1851 o governo concede a Anistia aos líderes revolucionários presos

Invasão Holandesa (1624-1654)
Os holandeses chegaram em Pernambuco em 1630, e daqui controlaram todo o Nordeste por 24 anos. O objetivo principal era a comercialização do açúcar para a Europa. Por deter o maior cultivo da Região, o Estado foi o alvo principal dos batavos por anos. Entretanto, os imigrantes sofreram resistência das milícias dos “descalços”, guerrilheiros que faziam oposição para proteger os engenhos. O conde Maurício de Nassau, um militar alemão, desembarcou em 1637 para consolidar o domínio holandês.

Insurreição Pernambucana (1645-1654)
Foi um movimento de resistência à permanência holandesa em Pernambuco, comandado por parte dos lusos que detinham engenhos. Liderado por João Fernandes Vieira, os portugueses contaram com o auxilio de africanos libertos e índios potiguares para expulsar os holandeses, que intensificaram a cobrança de impostos e empréstimos por meio de seus bancos. A Batalha dos Guararapes foi um dos principais episódios que resultou na expulsão.

Conjuração de “Nosso Pai” (1666)
Também conhecida por Revolta contra Mendonça Furtado, a Conjuração foi uma das primeiras revoltas nativistas e ocorreu em Pernambuco. A Capitania buscava reconstruir as suas principais cidade, Recife e Olinda, após a invasão holandesa. Por terem ajudado a expulsar os holandeses, os senhores de engenho queriam mais reconhecimento da Coroa Portuguesa. Enquanto isso, Portugal nomeou Jerônimo de Mendonça Furtado para administrar a região, o que gerou a ira dos pernambucanos.

Guerra dos Mascates (1710-1711)
Conflito marcado entre os senhores de engenho de Olinda, à época sede do poder político do Estado, e os comerciantes recifenses, a grande maioria portugueses. Conforme Recife crescia, os mercadores começaram a querer se libertar de Olinda e da autoridade de sua Câmara Municipal e isso causou o conflito entre pernambucanos. Somente após a intervenção colonial é que as lutas foram suspensas. Em 1711, Recife garantiu sua igualdade perante Olinda.

Conspiração dos Suassunas (1801)
Movimento que tinha como intuito emancipar Pernambuco das mãos dos colonizadores portugueses. Influenciado pelo iluminismo e a Revolução Francesa, o padre Arruda Câmara fundou em 1798 uma sociedade secreta parecida com a maçonaria, intitulada loja maçônica Areópago. Desse grupo conspiratório nenhum europeu poderia participar. Ao longo dos anos, o grupo se fundamentou em oposição ao domínio português. Daí tem-se fortemente a busca pela emancipação de Pernambuco com a ajuda de Napoleão Bonaparte.

Liderava esse movimento os irmãos Luís Francisco de Paula, José de Paula Cavalcante de Albuquerque e Francisco de Paula. Este último era o dono do engenho Suassuna. Em 1801, os três foram presos - e mais tarde absolvidos - após serem traídos pelos aliados e denunciados sobre os planos de emancipação que tinham. Esse foi o primeiro movimento de independência que terminou por influenciar a Revolução de 1817.

Revolução Pernambucana (1817)
A revolução pernambucana foi um movimento dos proprietários de terras e brancos livres pobres contra a coroa Portuguesa., que também contou com forte apoio da Igreja e da maçonaria, a exemplo dos fundadores do Areópago de Itambé (detalhe). Tudo começou com a chegada da família real portuguesa, em 1808, ao Brasil. Os ideais iluministas se propagavam na elite da época. Diante da insatisfação, proprietários de terras e brancos livres pobres se organizaram num movimento que eclodiu em março de 1817. Juntos, instalaram um governo provisório. Formaram ainda um grupo para difundir o movimento pelas outras capitanias do País e na Europa. Os líderes foram presos e posteriormente executados, o que levou Portugal a reestabelecer sua hegemonia na região.

Confederação do Equador (1824)
Em essência, a Confederação tinha como objetivo questionar a Constituição de 1824 que, na visão dos revoltosos, centralizava o poder, apesar do seu aparente liberalismo. A centralização que a Constituição impunha levou a uma onda de insatisfação de representantes políticos do período contra o governo de Dom Pedro I. Desde 1817, um grupo de habitantes pernambucanos iniciou um movimento antimonarquista, que tomou corpo com as recorrentes crises da economia regional e as cargas tributárias.

O autoritarismo de D. Pedro I , ao depor o então governador escolhidos pelos pernambucanos, Manuel de Carvalho Paes de Andrade, foi o estopim para eclodir a Confederação, nome dado pela proximidade da região com a linha do Equador. Liderado por populares pernambucanos, o movimento teve adesão de outros estados do Nordeste. Os revoltosos buscaram criar uma Constituição Republicana e liberalista.

Além disso, queriam diminuir a influência do governo federal nos assuntos regionais, acabar com o tráfico de escravos, organizar forças de resistências populares contra o Império e formar um governo independente. Seus maiores expoentes foram Frei Caneca, Cipriano Barata e Emiliano Munducuru que defendiam a ampliação dos direitos políticos e reformas sociais. Enquanto isso, o governo imperial adotou medidas contra os separatistas entre elas a contratação de mercenários ingleses para lutarem contra os revoltosos. A Confederação teve o seu fim com a pressão imperial e seus integrantes foram executados.

Revolução Praieira (1848-1850)
Conflito ocorrido durante o período imperial brasileiro. Foi um evento de caráter liberal e federalista. À época, a política pernambucana era dominada pelos membros da família Cavalcanti e os Rego de Barros. Tranquila e centrada, a divergência ganhou contornos institucionais quando os Cavalcanti se alinharam ao Partido Liberal, e a família Rego de Barros se fez representar pelo Partido Conservador.

A disputa girava em torno do controle da região. Juntas, elas se revezavam, gerando frequentes acordos com facilidade. O conflito só adquire novos contornos quando eles recorrem à imprensa. Cada núcleo familiar cria um jornal, no qual defende suas narrativas e pontos de vista e ataca o outro. Os Conservadores, chamados “guabirus” (ratos) criam o Diário de Pernambuco enquanto os Liberais, chamados “Praieiros” (em virtude da sede ficar na rua da Praia) criaram o chamado Diário Novo.

O Partido da Praia cresce e elege deputados da Assembleia Legislativa Provincial. Chegando ao poder, os praieiros demitem funcionários ligados aos conservadores, o que gerou um grande problema administrativo. Com a instabilidade política, somada à retomada conservadora no governo central no Rio de Janeiro e ao novo governo de Pernambuco, que foi eleito com o objetivo de suprimir manifestações contrárias ao poder vigente, as condições eram favoráveis ao início da revolta praieira. Em 1849, os praieiros entram em Recife e sob a liderança de Pedro Ivo realizam alguns ataques. No entanto, as forças rebeldes sem poder e apoio para sustentar o combate, sofreram uma rápida rendição. O fim da rebelião se dá em 1848 e em 1851 o governo concede a Anistia aos líderes revolucionários presos.

Fonte: Jornal Folha de Pernambuco

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